Musical conta e canta história de Nara Leão

Cena do espetáculo ‘Nara’, em cartaz em São Paulo: qualidade vocal e musical (Foto: ©Lenise Pinheiro/Divulgação) Mesmo tendo nascido em Vitória (ES), em 19 de janeiro de 1942, a cantora […]

Cena do espetáculo ‘Nara’, em cartaz em São Paulo: qualidade vocal e musical (Foto: ©Lenise Pinheiro/Divulgação)

Mesmo tendo nascido em Vitória (ES), em 19 de janeiro de 1942, a cantora Nara Leão ficou associada ao Rio de Janeiro, principalmente em função de ter sido apelidada de “musa da Bossa Nova”, após ter aulas de violão com os músicos e compositores Carlos Lyra e Roberto Menescal, e emprestar a sala do apartamento dos pais para as reuniões dos novos artistas da música brasileira.

Essa é a história narrada no ótimo espetáculo Nara. Com direção e texto de Márcio Araújo, a peça é estrelada pela atriz, cantora e também dramaturga Fernanda Couto, que conquista não apenas pela beleza e pelo carisma, mas principalmente pelo talento genuíno e à flor da pele. Outro destaque é a utilização de um telão, feito com tecidos que parecem toalhas, que indica o nome dos homenageados em cada cena.

Há mais de um ano em cartaz (algo raríssimo no circuito teatral do país) e atualmente no Teatro Jaraguá, em São Paulo, Nara utiliza-se da metalinguagem, confusa em alguns momentos, para mostrar os atores conversando a respeito do espetáculo e atuando como os nomes importantes na história de Nara Leão.

Mais preocupado com a qualidade vocal, musical e de interpretação do que em fazer uma caricatura ou se aproximar ao máximo dos personagens reais, o elenco capricha e convence. A plateia canta feliz cerca de 20 clássicos, como Diz Que Fui Por Aí, de Zé Kéti e H. Rocha; João e Maria, de Chico Buarque e Sivuca; Insensatez, de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes; e A Banda, de Chico Buarque, com a qual venceu o Festival de Música Popular Brasileira de Rede Record, em 1966, dividindo o prêmio com Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros..

Após acompanhar um espetáculo intimista e quase sussurrado ao pé do ouvido, como a Bossa Nova, o público sai do teatro com a ótima e verdadeira impressão de que Nara Leão foi fundamental na história recente da música popular brasileira, principalmente a que vai dos anos 50 ao final dos anos 80.

Afinal, ela ajudou no lançamento dos cantores e compositores Chico Buarque e Raimundo Fagner, empenhou-se na música de protesto e na recuperação da obra de grandes sambistas dos morros cariocas, partiu em defesa da Jovem Guarda de Roberto Carlos & Erasmo Carlos. Também foi notória sua participação no movimento tropicalista, a ponto de aparecer na capa do disco-manifesto Tropicália.

Ela também sofreu na mão dos militares, e exilou-se com o marido e cineasta Cacá Diegues durante alguns anos da década de 1970. Nara Leão morreu na manhã de 7 de junho de 1989, vítima de um tumor cerebral inoperável, aos 47 anos, deixando um legado de lindas interpretações e a lição de vida de que vale a pena acreditar e defender os ideais acima de tudo.

 

Serviço
Sessões às sextas-feiras, às 21h30; sábados, às 21h, e domingos, às 19h
Ingressos de 40 a 50 reais
Teatro Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71. Bela Vista – Centro/SP. T: (11) 2802-7000