‘Dirigindo em SP engordei dez quilos e ganhei uma doença cardíaca’

Natália pedala às margens dos canais em Copenhagen (Foto: Cidades para Pessoas) A jornalista Natália Garcia está em Amsterdã, na Holanda, para a segunda parte de seu projeto Cidades para […]

Natália pedala às margens dos canais em Copenhagen (Foto: Cidades para Pessoas)

A jornalista Natália Garcia está em Amsterdã, na Holanda, para a segunda parte de seu projeto Cidades para Pessoas. Antes disso, ela passou um mês em Copenhague, fazendo reportagens sobre quais soluções encontradas lá poderiam ser aplicadas em cidades brasileiras. Conversei com Natália sobre seu projeto.

DU – Qual foi a sua inspiração para começar o Cidades para Pessoas?

Natália – Então, eu tive um carro dos 18 aos 25 anos. Nesse tempo engordei dez quilos, ganhei uma doença cardíaca, parte dos meus cabelos embranqueceram e, com apenas 25 anos de idade, eu era a típica paulistana estressada que não aguentava mais o trânsito da própria cidade! Foi nessa época (em 2008) em que comecei a flertar com a possibilidade de pedalar na cidade. Comprei uma bicicleta dobrável e minha relação com São Paulo mudou drasticamente. Antes eu me protegia da cidade em uma armadura de uma tonelada. De bike, passei a ocupar a cidade. E, por ocupá-la, passei a querer cuidar dela. O assunto do planejamento urbano, então, chegou primeiro na minha vida pessoal, e depois se tornou profissional. Passei a escrever sobre isso como freelancer e, há um ano, criei o cidades para pessoas. 

DU – Qual é a importância de ser financiada por crowdfunding (financiamento colaborativo)? Se você estivesse trabalhando para um veículo de comunicação seria diferente?

Natália – Foi importantíssimo viabilizar o projeto por crowdfunding. Se é para mudar a lógica de pensar nas cidades, então vamos começar mudando a lógica de viabilizar esse projeto. Esse foi meu pensamento quando decidi colocar o Cidades no Catarse. E o incrível é que já tinha uma comunidade enorme de pessoas em volta do projeto antes mesmo de ele começar. Gente que, como eu, estava ligada de alguma forma ao tema e queria ver as coisas mudarem. E o fato de eu ter sido financiada assim permite que todo o conteúdo produzido pelo projeto seja licenciado em Creative Commons, para que a informação seja livremente replicada ou usada em obras derivadas. Isso é importantíssimo para mim e jamais teria sido possível se o projeto tivesse sido viabilizado do jeito tradicional, ligado a um grande veículo, que deteria os direitos das reportagens. 

DU – O que mais te impressionou em Copenhague?

Natália – Algumas coisas me impressionaram muito. A maior dela é que eles conseguiram limpar a água dos canais em um nível que é possível nadar nela. Isso é demais. E há piscinas públicas espalhadas pelos canais. Outra coisa incrível é não precisar correr para atravessar a rua. Dá tempo de atravessar andando, com calma, e chegar até o outro lado da avenida. Numa boa. Aliás, quando o semáforo abre para os pedestres, a prioridade é deles mesmo, ninguém se atreve a passar pela faixa.  Também é impressionante que eles tenham resolvido o problema do lixo: metade é incinerado, metade é reciclado, há uma porcentagem mínima que vai para aterros sanitários, que eles querem neutralizar.