Álbum mostra doce bom humor de Carlos Careqa

“Alma Boa de Lugar Nenhum” é o oitavo do cantor, compositor, produtor e ator Carlos Careqa (Foto: Reprodução) “Estou cheio de arte / Arte até o pescoço / Tô guardando […]

“Alma Boa de Lugar Nenhum” é o oitavo do cantor, compositor, produtor e ator Carlos Careqa (Foto: Reprodução)

“Estou cheio de arte / Arte até o pescoço / Tô guardando pro almoço / O que não comi no jantar / Estou cheio de arte / Arte até na garganta / O mal já não se espanta / Com o que tem pra cantar”. Assim começa o álbum “Alma Boa de Lugar Nenhum”, o oitavo do cantor, compositor, produtor e ator Carlos Careqa. É justamente esse artista multifacetado que mais brilha no novo trabalho, marcado por certo tom teatral e letras muito bem humoradas, a começar pela primeira faixa, “Estou Cheio de Arte”, que conta com a participação da pianista e arranjadora Ana Fridman.

Nada se compara, por exemplo, a ouvir Chico Buarque cantando “Mataste minha música / Quebraste todos os meus discos / Fugiste com todas as canções / E o coração na selva selvagem”. A canção “Minha Música” foi composta em 2003, quando Careqa participou da ópera “O Homem dos Crocodilos”, de Arrigo Barnabé. Esse artista paranaense marcou a música de São Paulo, onde Careqa está radicado desde 1991. Os dois fazem um dueto nos vocais de “Todo Cuidado é Pouco”, última parceria do catarinense com Itamar Assumpção, falecido em 12 de junho de 2003.

O tom solene de “Balada da Dependência Sexual”, versão de Marcelo Marchioro e Celina Alveti, para canção de Kurt Weill e Bertolt Brecht, esconde uma letra sensacional: “Ele não tem querer, quem manda é o pau / Isso é a dependência sexual / Ele não crê na Bíblia, faz pouco da lei / Ele é um egoísta, lá eu sei”. Carlos Careqa, aliás, canta um pouco em alemão na faixa que dá título ao álbum e em que declara com o mesmo sarcasmo: “Desalmado, a perigo / Caminhando sem canção / Vou dizendo o que é preciso / Atirando sem canhão”. O idioma retorna em “Meu Pequeno Rádio”, versão de Careqa para outra canção de Brecht, agora em parceria com Hanns Eisler.

O sarcasmo também aparece em “Todo Cuidado é Pouco”: “Posso ser osso, angu de caroço… / Ser um ser muito ruim… / Todo cuidado é pouco meu bem… / De guaraná viro gin…”. Porém, Careqa prova ser compositor versátil ao rimar palavras e nomes terminados em “x”, em “O Rolo do Rolex”: “E aí, Jontex, Sedex, Malex, salamaleques, / Pileques: melhor passar o cheque / Pra acabar a confusão! / Pisa no breque e abana o leque / Chama o Rex, o Mix, o Max / Pois o moleque vai entrar no caldeirão”.

Incrível é que Carlos Careqa interpreta versos como “Você não mata pernilongo / As formigas você quer bem / As baratas invadiram / Você agora só anda zen”, de “Samba do Budista”, com uma seriedade impressionante, pontuada pelos toques fortes do piano. De modo doce, muitas vezes suave, a interpretação esbanja força e é agradável e convincente, mesmo que o artista não possua uma voz das mais perfeitas tecnicamente. Essa qualidade se deve principalmente a grande teatralidade esbanjada no tom certo, sem exageros, pelo artista. Com isso, ele se insere num grupo seleto do qual fazem parte nomes como Cida Moreira e Eduardo Dussek.

A síntese de “Alma Boa de Lugar Nenhum” parece ser feita pelo próprio Carlos Careqa logo na primeira página do encarte: “Quis fazer um disco simples, apenas com piano e voz: sou apaixonado por esse instrumento que nunca aprendi a tocar. Para isso, contei com o talento e a percepção de um time de craques, todos com muita musicalidade”. Entre esses craques, estão Ana Fridman, Tiago Costa, Paulo Braga, André Mehmari, Gabriel Levy e Karin Fernandes.

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