Nássara, mestre dos traços e das letras

Nascido no Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1910, Antônio Gabriel Nássara, ou simplesmente Nássara, foi um dos mais importantes e criativos artistas brasileiros do século 20. Ainda […]

Nascido no Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1910, Antônio Gabriel Nássara, ou simplesmente Nássara, foi um dos mais importantes e criativos artistas brasileiros do século 20. Ainda aproveitando a comemoração do centenário completado no final do ano passado, chegou recentemente às livrarias o ótimo “Nássara Passado a Limpo” (Editora Record, R$35), escrito por Carlos Didier. Por sua vez, Didier é autor também das badaladas biografias de Orestes Barbosa e Noel Rosa.

Elogiado por feras como Ruy Castro, Sérgio Cabral e Millôr Fernandes, Carlos Didier narra, de maneira leve, descontraída e muito bem-humorada, a trajetória de Nássara e revela que, além de um dos caricaturistas mais marcantes e reconhecidos da imprensa brasileira, ele foi um excelente compositor e teve passagens surpreendentes pelo rádio, incluindo o célebre programa de Geraldo Casé.

Nássara teve o privilégio de ser parceiro de alguns dos maiores nomes da música brasileira, caso de Noel Rosa, Haroldo Barbosa, Lamartine Babo, Ary Barroso e Wilson Baptista. Ele também foi responsável por, ao lado de Noel, ter a única música gravada em parceria por Francisco Alves e Carmen Miranda, a marcha-rancho “Retiro da Saudade”.

Suas canções também foram gravadas por, entre outros, Dircinha Batista (que considerava sua melhor intérprete), Nelson Gonçalves, Mario Reis, Silvio Caldas, Ataulfo Alves, Orlando Silva, Ademilde Fonseca e Araci de Almeida.

Carlos Didier desvenda muitas outras curiosidades em torno do biografado. Como ele ter sido ele o primeiro intérprete de um jingle, o tal anúncio musicado do rádio e da televisão. Tratava-se de uma quadrinha composta por Luiz Peixoto.

Também merece atenção especial a passagem de Nássara pelo famoso tablóide de oposição à ditadura militar “O Pasquim”, na década de 1970, quando arrancou elogios de todos os colegas e companheiros.

“Millôr Fernandes definiu Antonio Nássara como o ‘Mondrian do portrait-charge’. Para dimensionar a capacidade de abstração do brasileiro, citou o célebre pintor holandês. Porque compreendeu que ele possuía uma habilidade rara, quem sabe única, certamente genial, para o desenho”, garante Didier, na página 161.

Na parte final do livro, Carlos Didier descreve o intenso convívio com Nássara, de quem se tornou vizinho de porta, até o falecimento dele, em 11 de dezembro de 1996.

Para completar, há a referência completa de todas as caricaturas presentes no Acervo Nássara do Museu Nacional de Belas-Artes, assim como o registro de todas as composições dele que foram gravadas. Trata-se, portanto, de leitura obrigatória para quem deseja conhecer e se aprofundar na cultura brasileira do século XX.

E, com a proximidade do carnaval, nada melhor do que sair cantando por aí as marchinhas que Nássara compôs e deixou para a história, caso de “Alá-lá-ô”, “Formosa”, “Periquitinho Verde” e “Florisbela”, entre tantas outras.