Vizinhos de Porto Alegre coroam processo de mudança com recepção do fórum

Cidades da região metropolitana recebem centenas de eventos dez anos depois de sugestões que, feitas na capital, foram adotadas por diversas administrações

As cidades da região metropolitana de Porto Alegre abrigam a partir desta segunda-feira (25) inúmeras atividades do Fórum Social Mundial. Pela primeira vez em dez anos, os eventos deixam de ficar concentrados apenas na capital.

A proposta apresentada pelos prefeitos da região no encerramento do FSM de 2009, em Belém, no Pará, foi atendida pelos organizadores do encontro anual. Apesar de o fórum deste ano ser espalhado pelo mundo, cabe à discussão no Rio Grande do Sul o pontapé inicial e o seminário, este em Porto Alegre, que traça um balanço histórico e uma projeção para o futuro.

As cidades da região metropolitana decidiram por uma divisão em eixos temáticos e cada um abrigou o número de eventos que pode comportar. Canoas, por exemplo, tem um grande número de seminários, oficinas, debates e espetáculos artísticos. Todos os municípios receberão discussões sobre economia solidária, um dos elementos que têm se transformado na região.

Comandar a abertura do FSM 2010 não é simplesmente geração de divisas para a população local. Como o primeiro e outros fóruns se desenrolaram em Porto Alegre, as cidades ao redor foram incubadoras de algumas das propostas surgidas nos debates.

O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, lembra que em sua cidade há hoje 50 cooperativas organizadas, a maioria no setor habitacional. “A partir de 2001, com a experiência que o Uruguai trouxe ao Fórum Social Mundial, conseguimos desenvolver no estado essa parceria. Hoje há leis federais e municipais que favorecem as cooperativas”, pontua.

Ao mesmo tempo, o quadro político nesses locais mudou. Hoje, as cidades da região metropolitana são governadas pelo PT. Embora a presença de partidos não seja aceita no FSM, a dos integrantes das siglas é, e sabe-se que prefeitos e governadores petistas contribuíram para o nascimento do evento, em 2001. “Houve uma influência ideológica sobre as pessoas. Elas tiveram uma abertura maior às ideias de esquerda”, afirma Marcelo Franco, um dos integrantes do comitê organizador do Acampamento Internacional da Juventude.

O acampamento, por sinal, deixa Porto Alegre e vai para Novo Hamburgo. O sítio de Lomba Grande abriga a partir deste sábado (23) os jovens de todas as partes do Brasil e da América do Sul. Para os organizadores, ficar fora da capital gaúcha é poder focar mais nos debates. “Muita gente que não tinha nada a ver com o evento ia ali mais para perturbar do que para colaborar de alguma forma. Eram aspectos negativos que acabavam interferindo muito”, adverte Franco.

Presidentes

Autoridades nacionais estarão não apenas em Porto Alegre. São Leopoldo recebe, na sexta-feira (29), o presidente eleito do Uruguai, Pepe Mujica, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera, o ministro da Cultura de Cuba, Abel Prieto, e o assessor especial da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia. A cidade sedia também o Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Cultura e a Reunião Pública Mundial de Cultura, com mesa redonda comandada por Emir Sader na quarta-feira (27).

Eduardo Mancuso, assessor de Cooperação Internacional da Prefeitura de Canoas e um dos organizadores do FSM 2010, avalia que a descentralização facilita a dinâmica das discussões ao permitir o aumento da diversidade. Outro aspecto positivo, para ele, é que de certo modo coroa-se o processo de mudança na administração das cidades da região metropolitana influenciadas pelo fórum. “Temos cidades que passaram a ser governadas em conexão com esse processo de inovação, de democratização, de políticas inclusivas. Várias delas adotaram o orçamento participativo, por exemplo”, ressalta.

Confira aqui a programação completa e separada por cidades.