Via Campesina pede que Lula não meça esforços no Haiti

Representantes em missão no país caribenho que retornaram ao Brasil para passar férias afirmam que reconstrução haitiana é fácil se comparada aos gastos militares

Quintino Severo, Carlos Oliveira e Sinevaldo Miranda pensam que ocupação militar dos Estados Unidos no Haiti é inadequada (Foto: RedeBrasilAtual)

Direto de Porto Alegre – Representantes da Via Campesina no Brasil pediram ao presidente Lula que não meça esforços nos trabalhos de reconstrução do Haiti. Carlos Roberto de Oliveira, do Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia, e Sinevaldo Miranda, ligado ao MST, apresentaram nesta terça-feira (26) em Porto Alegre aqueles que consideram os principais problemas do país devastado por um terremoto no início deste ano.

Cumprindo missão desde janeiro de 2009, os dois escaparam do fenômeno porque estão em férias no Brasil e retornam ao país caribenho no fim deste mês. Em entrevista coletiva no Fórum Social Mundial, eles aproveitaram para destacar que o Haiti não tem a violência que se fala e que lá vive um dos povos mais solidários do mundo.

No documento encaminhado ao governo brasileiro, a Via Campesina solicita a construção de reservatórios, o fornecimento de cisternas para captação das chuvas e poços artesianos como alternativas para a falta de água no país.

Sinevaldo Miranda aponta que a debilidade no abastecimento é muito anterior ao terremoto e que 90% da água ingerida no Haiti está com níveis de coliformes fecais acima do tolerado.

Outro problema sério é a escassez de alimentos. As organizações rurais brasileiras pretendem trazer 120 jovens haitianos para que se formem técnicos agrícolas e possam trabalhar na superação de um antigo entrave ao desenvolvimento da nação. Há outras dificuldades básicas a serem superadas, como a falta de sementes, aponta Sinevaldo Miranda. “Como o Brasil mantém as tropas no Haiti, acredito que é mais que necessário levar uma ajuda humanitária nesse sentido. Principalmente para reforçar os camponeses”, destaca. 

Carlos Roberto de Oliveira destaca que o terremoto está gerando um êxodo urbano, já que as pessoas têm receio de ficar nas cidades e não nutrem perspectivas de encontrar formas de renda. Calcula-se que 60% da população economicamente ativa haitiana estava sem trabalho ou em subempregos antes do terremoto.

Outro fator que atrapalha é a falta de informação: “Só para a gente ter uma ideia, teve um ciclone em 2004 em que morreram quatro mil pessoas. E pessoas no estado vizinho não sabiam o que tinha acontecido no próprio país. Os meios de comunicação são muito limitados. Acredito que há pessoas que não sabem o incidente que aconteceu em parte do país”.

Estados Unidos

Os camponeses acham que a ajuda brasileira é fundamental e que o montante é pequeno tendo em vista um povo tão solidário e que precisa de quantias pequenas para a reconstrução. Por isso, eles consideram que países que investem tanto nas forças militares não terão problemas em fornecer assistência humanitária.

Severo Quintino, secretário da Central Única dos Trabalhadores (CUT), aproveitou a ocasião para assinalar que a atuação dos Estados Unidos neste momento é absolutamente indevida. “Nesse momento os Estados Unidos deveriam levar retroescavadeiras, muitas máquinas, muita gente para ajudar a construir estrada e a reconstruir as casas. Um soldado fardado para a guerra não tem essa autorização. Qualquer tropa que chegue ao Haiti deve estar voltada para isso”, afirma.

Equipes de ajuda humanitária reclamam que os Estados Unidos chegaram rapidamente com milhares de militares nada preocupados em colaborar com a reconstrução do país. Alimentos e outros materiais a serem distribuídos para a população chegam a ficar bloqueados no aeroporto da capital Porto Príncipe por dias devido à atuação dos militares norte-americanos.

Sinevaldo e Carlos garantem que não têm medo do que terão pela frente e esperam chegar rapidamente ao país. Eles embarcam no dia 31 para mais um ano de missão com outros dois brasileiros e 16 representantes de organizações sociais de outros países.