Para Grajew, Fórum mostrou que neoliberalismo não é o único modelo

Um dos fundadores do processo afirma que, ao longo de seus dez anos, FSM conquistou corações e mentes e hoje acredita-se que outro mundo é possível

Oded Grajew acredita que o Fórum de 2011, no Senegal, é importante por ocorrer no local que sofre as consequências do atual modelo (Foto: Roosewelt Pinheiro. Agência Brasil)

O Fórum Social Mundial abre suas atividades em 2010 onde tudo começou. Porto Alegre inaugura nesta segunda-feira (25) um processo que só será encerrado daqui a um ano em Dakar, no Senegal. Até lá, serão dezenas de eventos ao redor do mundo debatendo o processo do FSM, que chega a dez anos de vida.

Um dos pais da ideia, Oded Grajew pensa que a proposta de que “um outro mundo é possível”, marca do Fórum, ganhou corações e mentes ao longo do tempo. Em conversa com a Rede Brasil Atual, um dos fundadores do Movimento Nossa São Paulo e da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente lembrou que, quando tudo começou, o neoliberalismo parecia o modelo definitivo e incontestável de desenvolvimento.

Na entrevista a seguir, ele antecipa algumas das reflexões que estarão presentes nas discussões, que vão até sexta-feira (29) e têm como sede principal a Usina do Gasômetro, na capital gaúcha. De lá, a discussão migra para Salvador – a Rede Brasil Atual também acompanha-, e daí para o mundo.

RBA – Qual a importância de iniciar este ano pelo Rio Grande do Sul?

É um Fórum Social Mundial comemorativo de dez anos. Como o começo foi aqui, tem tudo a ver. A gente está aqui para fazer uma reflexão sobre o passado e, principalmente, para olhar o futuro e ver como a gente pode abalizar melhor o processo do Fórum.

RBA – Evidentemente, muita coisa só ficará clara com o início do seminário. Mas, levando em conta o que foi discutido ao longo dos dez anos, quais serão as prioridades e as linhas a serem defendidas ao longo desses dias?

Realmente não sei. Por isso a gente está fazendo o seminário, trazendo tanta gente, além das atividades auto-organizadas. Temos muitas coisas positivas que aconteceram esse tempo todo. Formou-se uma sociedade civil global, impactamos muito em questões como a guerra, modelos econômicos, distribuição de renda.

Países que seguiram muitas ideias que foram gestadas pelo Fórum se saíram melhor durante a crise financeira. A ideia de que um outro mundo é possível ganhou corações e mentes em vários lugares que mudaram seus quadros políticos.

E temos hoje um desafio enorme, que certamente será pautado pelas atividades, que é o desafio ambiental. Não só porque é ambiental, mas porque é consequência do modelo de desenvolvimento que temos e que é importante pelo simples fato de que está esgotando os recursos naturais e colocando em risco a espécie humana.

RBA – Ao longo de 2009, a questão ambiental ganhou uma proporção maior, mas o resultado talvez não tenha sido tão sólido quanto se esperava.

Muita coisa avançou. Por exemplo, o Brasil, que tinha muita resistência a adotar metas de redução da emissão de gases, acabou incorporando a ideia por pressão da sociedade e das organizações que fazem parte do Fórum Social Mundial.

Mas o fracasso geral de Copenhague, em que muitos países não conseguiram levar adiante essas ideias, apenas reforçou a necessidade de repensar estratégias e aumentar nossa força de pressão para que o desastre que está se avizinhando realmente não aconteça.

RBA – Já dá para dizer a expectativa em relação ao Senegal? Qual o significado de retornar à África? 

Senegal vai ser o lugar onde várias coisas que vão acontecer desembocarão lá. Tanto sobre questões africanas quanto sobre questões mundiais. Muito em torno do modelo de desenvolvimento e da governança mundial, das relações entre países. A África é o continente que mais sofre as consequências tanto das mudanças climáticas quanto da concentração de renda. É um continente bastante pobre. 

RBA – Para a gente concluir, qual foi a importância do Fórum ao longo destes dez anos em ampliar, dentro da sociedade, o questionamento sobre os modelos de desenvolvimento?

Quando a gente começou o Fórum, a ideia dominante era de que havíamos chegado ao modelo definitivo. O neoliberalismo havia determinado o fim da história em termos de pensar modelos econômicos e sociais e teríamos de nos adaptar a esse modelo. 

E o Fórum mostrou que outro mundo é possível. Que dá para mudar, que é necessário mudar, e que o social deve ser a prioridade. É a ideia da possibilidade da mudança. Mudou-se o quadro político de muitos países, cabeças, mentalidades e várias políticas. Essa foi uma grande conquista do Fórum Social Mundial.

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