Convidado de Alckmin, FHC termina só na mesa do Brasil Sem Miséria

Sem perder cordialidade, Dilma recobre Lula de elogios e enaltece as diferenças

Na cerimônia, estiveram presentes a presidenta Dilma, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e governadores das principais capitais do país (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – A presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na cerimônia do Brasil sem Miséria para o Sudeste teve contornos de surpresa no Palácio dos Bandeirantes. Os convidados, em boa parte políticos aliados do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), não esperavam, e se entusiasmaram com o anúncio do tucano na composição da mesa oficial da cerimônia.

Trata-se de um encontro pouco comum. Estiveram na sede do governo paulista a presidenta Dilma Rousseff, os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), além do anfitrião. Foi do tucano de São Paulo o convite a Fernando Henrique Cardoso, segundo informaram assessores do Palácio do Planalto.

Todos os políticos manifestaram clima de grande cordialidade, e exaltaram o “espírito republicano” do encontro.

Dilma, no mesmo tom, registrou durante seu discurso a presença do ex-presidente no local, mas fez questão de tecer elogios a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. E fez isso buscando evitar o tom de falta de cortesia – sem, por isso, deixar de sublinhar algumas diferenças.

Ao comentar décadas e décadas de governos que ignoraram os verdadeiros problemas do povo brasileiro, entre eles o da miséria, a presidenta não hesitou: “Esse problema só não é maior porque tivemos um presidente e um governo que foram capazes de levar 40 milhões de brasileiros à classe média.”

Enquanto Lula passou parte de seus dois mandatos criticando o legado de FHC, Dilma vê o mandato de seu padrinho político com bons olhos. “Esta (ascensão social) é, sem dúvida, a herança bendita que entre tantas coisas o governo Lula me legou”, afirmou. A plateia aplaudiu a lembrança do petista, mas as mãos de FHC pareceram particularmente pesadas. Ele não realizou mais que três breves – senão chochos e quase silenciosos – encontros das palmas das mãos.

Dos porquês

Nos bastidores, houve três leituras possíveis para o convite feito pelo governador ao ex-presidente. A primeira é a tentativa de mostrar distância de José Serra (PSDB), ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à Presidência da República em 2010. Ao mesmo tempo, poderia provocar ciúmes em um adversário político dentro do próprio partido, cujo destino, cedo ou tarde, se cruzará com o dele em alguma eleição – ainda que indiretamente.

Nesta leitura, cabe também a possibilidade de que Alckmin tenha tido a intenção de promover novo desagravo a FHC, cuja imagem fora praticamente escondida por Serra durante a campanha do ano passado – logo após a derrota, o PSDB deu ao ex-presidente todo o espaço do seu programa partidário gratuito. 

A segunda tese indica que Lula fora o alvo de Alckmin, que em seu discurso exaltou as qualidades de Dilma. “Ultrapassamos um período de disputas para unir esforços em prol dos que mais precisam no Brasil. Isso se deve em grande parte a seu patriotismo (o de Dilma), a sua generosidade, a seu espírito conciliador”, afirmou o tucano, que conviveu politicamente com o ex-presidente durante sua primeira passagem pelo Palácio dos Bandeirantes.

A terceira versão é mais simples: o governador quis irritar duplamente a Serra e a Lula.

Os fatos ainda mais singelos. FHC saiu sem discursar. No momento da foto entre presidenta, governadores e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, restou só à mesa de cerimônias, a lembrar o convidado de um casamento que, na hora dos registros para a posteridade, não é o pai dos noivos, não é o padrinho, não é um parente.