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Sob Bolsonaro, jornalistas enfrentaram censura na Amazônia

Entidades pedem ao governo proteção ao jornalismo na Amazônia, após anos de destruição da política ambiental sob Bolsonaro

Reprodução/Twitter
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"O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira é a manifestação mais brutal da censura. É um ataque à liberdade de imprensa"

São Paulo – Faz um ano do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Por conta da data, organizações da sociedade civil fizeram hoje (5) um apelo pela responsabilização dos envolvidos no crime. Além disso, defenderam medidas de proteção aos jornalistas, indígenas e defensores de direitos humanos que atuam na região amazônica. O pedido foi feito durante um evento realizado nesta segunda-feira no Instituto Vladimir Herzog.

Bruno Pereira, indigenista, e Dom Phillips, jornalista, foram vítimas de uma emboscada no Rio Itacoaí, no município de Atalaia do Norte, situado na tríplice fronteira amazônica. Dez dias depois, seus corpos foram encontrados esquartejados, queimados e ocultados na floresta. A situação ganhou relevância especial após apoio tácito do Estado brasileiro, dirigido por Jair Bolsonaro (PL). Era notória sua posição contrária à preservação, em benefício ao garimpo, entre outras atividades danosas.

A coalizão composta por diversas entidades de defesa dos direitos humanos critica a morosidade do Estado. Elas afirmam que “as respostas oferecidas pelo Estado brasileiro diante desse crime bárbaro, bem como diante da situação de extrema insegurança vivida pelos povos indígenas, defensores de direitos humanos e jornalistas que atuam na Amazônia, são insuficientes”.

Censura brutal

Fazem parte dessa coalizão as seguintes organizações: Artigo 19 Brasil e América do Sul, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Instituto Vladimir Herzog (IVH), Instituto Palavra Aberta, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Instituto Tornavoz.

As entidades relatam que pelo menos 11 defensores e comunicadores indígenas ainda enfrentam um alto risco. Embora tenham sido incluídos no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), as medidas oferecidas pelo estado podem não ser suficientes para lidar com as ameaças que eles estão enfrentando e a violência que prevalece na Floresta Amazônica.

“O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira é a manifestação mais brutal da censura. É um ataque à liberdade de imprensa. Um ataque ao meio ambiente, um ataque à democracia, é um ataque a um projeto de futuro deste país. Todos nós perdemos quando as vozes que nos alertam sobre a destruição da floresta e de seus povos são assassinadas”, afirmou Artur Romeu, diretor da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), durante o evento.

Ele ressaltou que casos como esse representam um ataque direto ao direito de acesso à informação de toda a sociedade brasileira e mundial. Durante o evento, as entidades divulgaram os dados preliminares do Observatório de Violações da Liberdade de Imprensa na Amazônia. A RSF coletou as informações desde a morte de Bruno e Dom: foram 62 casos de violações no período de julho de 2022 a maio de 2023.

Vítimas

Entre as vítimas, 40 são homens, 18 são mulheres e o restante inclui equipes de reportagem completas ou veículos de comunicação em geral. Houve também 32 tentativas de impedir a cobertura jornalística. Isso por meio de intimidação, hostilização, danos a equipamentos ou agressões físicas (essas últimas ocorreram em 13 dos 32 casos).

“Este não é de forma alguma um caso isolado. Estamos falando de um cenário sistêmico e estruturado de violência contra as vozes que denunciam violações. Que denunciam abusos e a destruição da floresta, do meio ambiente e dos povos que habitam a região amazônica”, afirmou Romeu.

A pesquisa também revelou nove ameaças. Quatro processos judiciais abusivos ou decisões judiciais arbitrárias, cinco ameaças de morte, três invasões ou ataques às sedes de veículos de comunicação e um ataque a tiros contra um jornalista, entre outras violações.

Aproximadamente 57% dos perpetradores são agentes privados. Entre os perfis mais comuns estão manifestantes de extrema-direita, organizações criminosas e empresas dos setores de mineração, garimpo, agronegócio e turismo. Os veículos de imprensa mais vulneráveis a violações durante o período de pesquisa foram aqueles que cobrem política, meio ambiente, direitos humanos e segurança pública.

“Uma sociedade que não garante condições livres e seguras para o exercício do jornalismo, da defesa de direitos fundamentais e de seus povos indígenas está condenada a apagar seu passado e impedir a construção de seu futuro”, conclui a nota emitida pela coalizão.

Com informações da Agência Brasil


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