Apesar de novo “status”, Reserva de Biosfera da Mata Atlântica tem problemas

Em entrevista a Rede Brasil Atual, diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente classifica de preocupante a política de Santa Catarina para o bioma

Vista aérea de área de conservação da Mata Atlântica (Foto: Valter Campanato. Agência Brasil)

A Unesco deu chancela à decisão brasileira de ampliar a Reserva de Biosfera da Mata Atlântica (RBMA). Com isso, a primeira área brasileira do tipo, criada em 1993, chega à “fase seis”, ou seja, já passou por cinco ampliações. Uma iniciativa do Programa Homem e Biosfera da Unesco (MaB, na sigla em inglês), a reserva de biosfera é uma área de ecossistema reconhecida como importante para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável.

Com mais de 35 milhões de hectares, a RBMA é a maior reserva de biosfera em área florestada do planeta, abrangendo 15 estados. Agora, a reserva passa a incluir áreas marítimas ao longo de sua extensão e integra novas unidades de conservação, que passam a ser zonas-núcleo – área legalmente protegida, como parques, cuja principal função é a preservação da biodiversidade.

Ainda assim, para o diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, João Medeiros, há uma grande dificuldade em promover a ligação física entre as zonas-núcleo devido ao histórico desmatamento excessivo da Mata Atlântica. “É preciso que a reserva avance no sentido de gerar conectividade entre os fragmentos que compõem as zonas-núcleo. Você vai ter, a partir disso, a manutenção dos processos ecológicos”, afirma.

Veja também:
>> Emissão de CO2 subirá 39% até 2030 sem nova política

Persistindo o problema, maior será o isolamento das áreas preservadas e ficará mais difícil a preservação da Mata Atlântica como uma unidade, além da possibilidade de extinção de espécies animais e vegetais em determinados pontos.

Estudos divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, entre 2005 e 2008, o desflorestamento atingiu 102,9 mil hectares da floresta, sendo Minas Gerais e Santa Catarina as áreas mais críticas. Para João Medeiros, é preciso uma ação mais efetiva dos Comitês Estaduais da Reserva da Biosfera junto aos governos desses estados para conduzir as políticas públicas.

Em Santa Catarina, estado que tem 22,4% da área coberta por Mata Atlântica, recentemente foi sancionado o Código Ambiental pelo governador Luiz Henrique da Silveira que permite a redução dos trechos protegidos ao longo dos rios. O estado é o único que teve redução no número de zonas-núcleo contidas na Reserva de Biosfera. “O que a gente está alertando é que uma política como a de Santa Catarina, com redução da reserva e redução do controle, com propostas como o Código Ambiental, obviamente dá uma sinalização preocupante”, aponta o diretor do Ministério do Meio Ambiente.

Na reunião em Jeju, na Coreia do Sul, o Programa o Homem e a Biosfera aprovou a criação de 22 novas reservas da biosfera. Agora, integram a lista 553 localidades em 107 países.