Joaninhas são alternativa ao uso de venenos e agrotóxicos

O chamado controle biológico se baseia na própria pirâmide alimentar dos insetos. Segundo professor da USP, algumas espécies são capazes de exterminar até 95% das pragas

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A adoção do controle biológico com a utilização de insetos como as joaninhas reduz a contaminação da água e terras utilizadas na agricultura, sem o uso de agrotóxicos

São Paulo – Em meio à necessidade de redução do uso de agrotóxicos e venenos que contaminam os alimentos e o meio ambiente, o chamado controle biológico tem sido discutido como alternativa para o controle e manejo de pragas. Insetos como as joaninhas, por exemplo, podem combater pragas como lagartas, pulgões e moscas brancas, e sua utilização tem sido adotada por agricultores e mesmo por autoridades públicas.

Desde 2018, a prefeitura de Belo Horizonte tem uma biofábrica de joaninhas e crisopídeos para produzir insetos que fazem o controle biológico de pragas em áreas verdes e hortas urbanas. Eles são alimentados e colocados para acasalar e seus ovos e larvas recebem cuidados para completar o ciclo e atingir a fase adulta. De 2019 a 2021, foram distribuídas cerca de 80 mil joaninhas e o objetivo para 2022 é alcançar a disseminação de 50 mil insetos.

A iniciativa mineira se inspirou na prefeitura de Paris, que em 2017 distribuiu 40 mil larvas de joaninha para seus habitantes como forma de incentivar a substituição do uso de pesticidas. À época, a diretora do Departamento dos Espaços Verdes da capital francesa, Pénélope Komitès, contava que o objetivo era garantir a “proteção da biodiversidade”. “Paris é uma cidade que não utiliza nenhum pesticida nos parques e jardins públicos há vários anos. Em 1985, interditamos todos os produtos organofosforados e organoclorados. Além disso, temos uma gestão ecológica dos espaços verdes”, disse.

Em entrevista ao Jornal da USP, o  professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP e doutor em Entomologia Silvio Nihei comenta que se trata de uma prática antiga, usada em boa parte do mundo, e que traz vantagens do ponto de vista ambiental e social.

A adoção do controle biológico reduz a contaminação da água e terras utilizadas na agricultura, o que permite o cultivo de alimentos orgânicos, livres de compostos químicos. “Esse agricultor vai produzir alimento orgânico, mais saudável. Outra vantagem direta para o agricultor é a sua não contaminação. Ele não precisará manipular, manusear e borrifar inseticidas químicos”, aponta Nihei.

O professor atenta ainda para o aspecto econômico da substituição. “O controle químico é muito caro. O agricultor precisa aplicar cada vez mais inseticida, em maior concentração e frequência, o que aumenta o custo escalonadamente ao longo do tempo”, explica.

O processo do controle biológico

Nihei lembra que, no processo de controle biológico, o primeiro passo é identificar a praga e de onde ela vem. “Um inseto-praga que esteja atacando a cana de açúcar, por exemplo, pode ser nativo ou introduzido, por isso é preciso reconhecer a sua origem”, pontua. “O segundo passo é conhecer os seus inimigos naturais, o que vai depender da origem dela.”

Se for uma praga nativa, explica o professor, pode-se avaliar o uso de insetos predadores ou parasitas também nativos. “Isso é uma linha de trabalho do controle biológico de não se buscar inimigos naturais de outros lugares, garantindo um maior equilíbrio ecológico utilizando um organismo que já existe no local.” Há insetos muito eficazes no controle populacional, alguns capazes de exterminar até 95% das pragas, aponta Nihei.

A redução do uso de agrotóxicos também contribui para o bem-estar geral, outra vantagem lembrada pelo professor. “Muitos dos problemas de saúde atuais podem estar associados à maior quantidade de inseticidas que temos usado. Nos últimos três ou quatro anos, uma grande quantidade de agrotóxicos foi aprovada para uso e, com isso, muitos outros problemas vão surgir”, diz. “Nós devemos pensar desde já em fazer o controle biológico e investir na ciência, para que daqui a cinco, dez, 15, 20 anos tenhamos uma melhor saúde da população.”

Com informações do Jornal da USP


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