Crime socioambiental

Braskem: das casas populares destruídas ao lucro imobiliário em Maceió

Petroquímica Braskem anuncia demolição das centenas de casas que estão sendo engolidas pelo solo esburacado feito um queijo suíço devido à extração inadequada de sal-gema

Observatório da Mineração
Observatório da Mineração

São Paulo – Maior petroquímica das Américas, a Braskem anunciou nesta semana a demolição de casas para estabilização e drenagem da encosta do Mutange, em Maceió. A obra faz parte do Termo de Acordo Socioambiental firmado em dezembro de 2020 entre o Ministério Público Federal e a empresa, com participação do Ministério Público Estadual.

Segundo divulgou a companhia, as obras serão realizadas em uma área com cerca de 200 mil metros quadrados. A primeira das quatro etapas é a demolição de aproximadamente duas mil casas, que foram rachando e estão quase afundando devido a instabilidades no solo causadas pela extração de sal-gema, atividade exercida pela companhia durante décadas, desde a ditadura civil-militar (1964-1985). Mas isso a empresa não fala.

Na etapa seguinte será feita terraplenagem para amenizar inclinações do terreno e a construção de um sistema de drenagem para as águas das chuvas. E a última, o plantio de cobertura vegetal. A previsão é que as obras fiquem prontas no final deste ano.

Bênçãos à Braskem

Esse projeto, que parece mais a construção de um parque, esconde um dos maiores crimes socioambientais do país, segundo o Observatório da Mineração. Durante décadas a Braskem minerou sal-gema na capital de Alagoas sob as bênçãos de todos os governos estaduais e prefeitos eleitos desde então e com a anuência dos órgãos ambientais de fiscalização.

“Feita de modo inadequado, desrespeitando todas as regras, as minas de sal-gema da Braskem foram exploradas perto uma das outras, em alguns casos encontrando-se para formar falhas que hoje são responsáveis pela destruição de 4 bairros de Maceió e pela remoção de 55 mil pessoas de suas casas”, diz trecho do artigo “Crime socioambiental transformado em lucro imobiliário: o caso da Braskem em Maceió”, de Maurício Angelo, no site do Observatório.

Aquele que é considerado o maior desastre em área urbana em andamento no mundo hoje caracteriza-se pelas rachaduras e afundamentos, comprometendo a fundação. Com isso as pessoas foram deixando suas casas, os bairros se tornaram fantasmas e o cenário lembra mais a uma guerra. Sem opção, essas famílias aceitaram um acordo com a empresa, que paga apenas R$ 81 mil para cada residência – o que é insuficiente para comprar ou construir outra.

Com a expulsão das famílias, segundo Angelo, a companhia tornou-se proprietária dos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro. A expectativa é que, com o passar do tempo, a área seja valorizada, valendo cerca de R$ 40 bilhões – montante bem maior que os R$ 10 bilhões gastos com as indenizações.

A tragédia foi observada após um tremor de terra ocorrido em fevereiro de 2018 no bairro do Pinheiro, onde surgiram as primeiras rachaduras. Contudo, após um ano, outros bairros apresentaram o mesmo problema, como o Mutange, Bebedouro e Bom Parto. Ao estudar as razões do problema, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) identificou que a extração de sal-gema, feita durante quatro décadas pela Braskem, sem a fiscalização das autoridades públicas, foi a causa do desastre.

O drama dos mais de 65 mil moradores expulsos, que tiveram de deixar para trás seus sonhos, e o silêncio das autoridades responsáveis podem ser visto no documentário A Braskem Passou por Aqui: A catástrofe de Maceió, do cineasta argentino Carlos Pronzato.

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Redação: Cida de Oliveira


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