Efeito estufa

COP26 duvida de promessa de governo brasileiro. ‘Pedalada climática’

Deputado Nilto Tatto relata reação da comunidade internacional ao anúncio de aumentar meta para redução de gases poluentes para 50% até 2030

Christian Braga/Greenpeace
Christian Braga/Greenpeace
Os grandes vilões das emissões desses gases no Brasil são o desmatamento e as queimadas, que em 2019 responderam por 44% das liberações desses gases no Brasil

São Paulo – Ceticismo é a palavra que resume a reação da comunidade internacional ao anúncio feito pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, de elevar para 50% meta de redução de gases de efeito estufa até 2030. O compromisso foi assumido ontem (1º) na COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que ocorre em Glasgow, na Escócia. Nesta terça-feira (2), o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), integrante da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, falou ao Jornal Brasil Atual sobre sua participação na COP26 e o descrédito do governo brasileiro.

“Tanto é que (a meta anunciada) foi apelidada como ‘pedalada climática’”, conta o parlamentar. “Você pode falar que pode assumir meta de redução, colocar qualquer número achando que o mundo todo vai acreditar. Na medida em que assume uma meta diferente do que o Brasil vinha assumindo – e é importante que o faça – precisa dizer como vai chegar a isso”, cobra o parlamentar. Isso porque, como lembrou o parlamentar, todas as medidas adotadas no âmbito federal nos últimos três anos indicam que o governo brasileiro não vai cumprir o que prometeu.



Se pretendesse realmente atingir a meta de redução de gases poluentes para 50% até 2030, avalia Tatto, o governo Jair Bolsonaro deveria estar demarcando terra indígena, território quilombola, recriando todo programa de controle do desmatamento na Amazônia. Deveria estruturar novamente o ICMBio, o Ibama. “Enfim, um conjunto de medidas que faz com que vai atingir essa meta. O que o governo está fazendo é passar uma narrativa, mas faz completamente o contrário dentro do país”, critica o deputado.

Vexame oficial

O resultado esperado da COP26 é que os países digam concretamente como vão atingir as metas com as quais estão se comprometendo. “É esse o grande problema do Brasil. A crítica que se faz é que se estipulou uma meta, mas não diz como vai fazer. Por isso estamos aqui. Para dizer que o Brasil precisa fazer sua parte, de fato fazer a redução das emissões. Para isso precisa controlar para não ter mais desmatamento na Amazônia, repensar todo o modelo de agricultura.”

Tatto diz que todos esperam que os demais países não cometam o mesmo vexame que o Brasil está fazendo de forma oficial. “O governo brasileiro está tentando dar um passa-moleque no conjunto dos países. Mas estamos aqui participando vários parlamentares de oposição, movimentos populares, ONGs, todos para mostrar que o Brasil é sério, tem compromisso, quer fazer sua parte. Mas temos um problema muito sério que é um governo que não está à altura do povo brasileiro e das responsabilidades que o Brasil pode assumir nesse debate das mudanças climáticas.”

Acompanhe a entrevista

Tatto comentou ainda a maquiagem que o Brasil tenta fazer sobre o tema em seu stand oficial na COP26, com uma narrativa de política sustentável que não é real e é derrubada por todos os dados do setor. Além disso, falou sobre a importância da participação de governadores, prefeitos, parlamentares e movimentos que realmente trabalham em defesa do ambiente. Assista: