Desastre à vista

Por política ambiental desastrosa, Brasil deve ‘passar vergonha’ na COP26

Sem ter o que mostrar na área ambiental, Bolsonaro não vai a encontro. Representantes de outras esferas do poder público e de ONGs brasileiras devem contrapor “mau exemplo” de gestão federal

Chico Ribeiro / Governo Mato Grosso
Chico Ribeiro / Governo Mato Grosso
Pantanal foi castigado com queimadas em 2020. Na contramão do mundo, Brasil aumentou emissões em plena pandemia

São Paulo – Nem o presidente Jair Bolsonaro e nem o vice, Hamilton Mourão estarão presentes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), que tem início neste domingo (26). E não é à toa. O governo brasileiro tem muito pouco a mostrar na área ambiental e sua atuação no setor foi alvo até mesmo de uma ação no Tribunal Penal Internacional (TPI), promovida por uma ONG austríaca, apontando crime contra a humanidade.

De acordo com dados divulgados nesta semana pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, enquanto a média global de emissões de gases de efeito no ano passado sofreu uma redução de 7% em função da pandemia, o Brasil teve um aumento de 9,5%, liberando 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020, contra 1,97 bilhão registrados em 2019.

Mesmo com resultados desastrosos, a gestão de Jair Bolsonaro procura se eximir de culpa. “O governo brasileiro tem procurado se defender dizendo que nós não somos os principais emissores de gases de efeito estufa. Entretanto, há uma peculiaridade, porque boa parte das nossas emissões está ligada ao desmatamento e à queimada. Ou seja, além de nós emitirmos, isso está relacionado à destruição de biomas importantes como Amazônia, pantanal, cerrado”, explica o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar.

Ou seja, além de o Brasil emitir gases de efeito estufa, o tipo de emissão ainda acaba causando outros impactos diretos e indiretos que trazem ainda mais impactos para o clima. Côrtes alerta que a redução de chuvas na região central, por exemplo, não é eventual e vem se manifestando nos últimos 12 anos. Trata-se de um fenômeno relacionado ao desmatamento da Amazônia.

“Nós estamos prejudicando o regime de chuvas que abastece a região central do Brasil e prejudica a atuação de hidrelétricas importantes como Furnas, por exemplo. Isso acaba fazendo, por um lado, que a gente tenha que usar mais energia térmica, muitas vezes usando combustíveis fósseis.”

Brasil na COP26

O ministro do Meio Ambiente (MMA) Joaquim Leite reiterou, como fez seu antecessor na pasta, Ricardo Salles, que vai cobrar dos países ricos US$ 100 bilhões para que o Brasil cumpra seus compromissos em relacionados ao Acordo de Paris. Mas não deve ter seus reclamos atendidos, até porque, como lembra Côrtes, o país hoje sequer tem acesso ao dinheiro do Fundo Amazônia, por ter quebrado acordo estabelecido com Noruega e Alemanha. “A gente passa vergonha com a atuação do governo brasileiro na COP”, pontua.

Mesmo assim, o Brasil pode garantir alguns avanços em termos de política ambiental com negociações na COP26. “As ONGs e empresas têm desenvolvido muitos projetos que podem contrapor este mau exemplo do governo”, aponta o professor. “Muitas vezes o que não se vê por parte do governo federal pode ser visto em governos estaduais da região da Amazônia, com planos de recuperação de florestas e combate ao desmatamento.”

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