BIODIVERSIDADE

Pampa é o bioma brasileiro que mais perde vegetação natural, alerta estudo

Tradicionalmente explorado pela criação de gado e plantação de arroz, região sofre com o avanço da soja e tem uma redução de 46,2% em 36 anos

Arlei Antunes/creative commons
Arlei Antunes/creative commons
Nos últimos 36 anos, o Pampa perdeu 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que responde por menos da metade (46,1%) do território

São Paulo – O Pampa é o bioma que mais perdeu vegetação nativa nos últimos 36 anos, segundo estudo divulgado pelo MapBiomas, analisando proporcionalmente ao total de sua área. A análise colheu dados entre 1985 e 2020 e mostra uma redução de 46,2% nesse período.

O coordenador do MapBiomas, Heinrich Hasenack, explica que o avanço do uso humano sobre a vegetação natural do Pampa acentuou-se na última década, quando também foi possível notar o começo da mudança do perfil econômico do uso do solo. Segundo ele, o local sempre foi explorado para plantação de arroz e criação de bois, mas agora sofre com o avanço da soja.

“A substituição da formação campestre pela agricultura favorece a perda de biodiversidade e liberação de carbono na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Mas é também um desvio de uma vocação econômica natural do Pampa”, alerta Heinrich Hasenack, coordenador do mapeamento do Pampa.  “Ao contrário da Amazônia ou do Cerrado, onde é preciso desmatar para criar gado, no Pampa a vegetação nativa é um pasto natural, o que permite que a pecuária se desenvolva preservando a paisagem”, explicou.

Nos últimos 36 anos, o Pampa perdeu 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que responde por menos da metade (46,1%) do território. Formações campestres ocupavam 46,2% do território em 1985. Em 2020, eram apenas 32,6%. Nesse período, a agricultura ganhou mais de 1,9 milhão de hectares de área do Pampa. 

“O Pampa é uma região de pastagem nativa e, embora pequeno, é muito diverso. Ele faz parte dos campos da bacia do Rio da Prata, que vai até o Uruguai e Argentina. Ou seja, o solo é muito bom. Isso tem feito a soja se dar bem e, com o preço subindo, estão avançando sobre outras áreas. Eles entram no Pampa, produzem e depois abandonam o local, e a restauração do Pampa é diferente e com risco maior de degradação”, afirmou Hasenack à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

O bioma Pampa

O Pampa é considerado um bioma de relevância internacional para diversas espécies de aves migratórias. A existência de um mosaico de ecossistemas naturais incluindo lagoas costeiras, praias, dunas, campos, matas de restinga e áreas pantanosas atrai uma notável concentração de aves em diferentes estações do ano, em busca de alimento ou de sítios de reprodução.  

A região também possui muitas espécies campestres por metro quadrado, mesmo quando ocupado por gado, favorecendo a conservação da biodiversidade e do carbono estocado. Apesar disso, um fator preocupante para os especialistas é que o Pampa tem a menor proporção de unidades de conservação dentre todos os biomas brasileiros, com apenas 3% do território protegido. ” Existem áreas em que essa agricultura é mais extensiva, isso coloca em risco a biodiversidade daquele ambiente”, diz Heinrich.

Recentemente, o MapBiomas apontou que o Cerrado já perdeu 26,5 milhões de hectares de vegetação nativa de 1985 a 2020 e a agropecuária é responsável por 98,8% do desmatamento. Segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, entre 2010 a 2020, viu sua a vegetação nativa ser reduzida em cerca de 6 milhões de hectares.