situação crítica

‘Destruição do planeta não vai parar se não agirmos’, diz Alberto Fernández

Nações Unidas se preparam para COP-26, na América Latina Bolsonaro não participa de reunião da cúpula climática protagonizada pela Argentina

chico ribeiro/gov. MT
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Enquanto biomas são degradados no Brasil, o país, sob Bolsonaro, assume um papel de vilão global. Mesmo boicotes aos produtos do agronegócio brasileiro são cogitados pela comunidade internacional

São Paulo – “O planeta atravessa um período de fogo e enchentes”, relata a vice-chefe da ONU, Amina Mohammed. A entidade divulgou estudos que apontam para os efeitos sensíveis das mudanças climáticas. enquanto o mundo assiste apático à escalada das tragédias naturais. “A destruição do planeta não vai parar se não agirmos”, disse ontem (8) o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

Amina falou sobre os desafios que devem ser enfrentados pela humanidade em relação à crise ambiental durante o Diálogo sobre Soluções de Aceleração de Adaptação para as Mudanças Climáticas. Já Fernández abordou os mesmos temas durante a Cúpula Latino-Americana sobre Mudança Climática, da qual participaram líderes de 21 países da região. Ambos os eventos antecedem a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-26), prevista para início no dia 1º de novembro, em Glasgow, na Escócia.

Embora o Brasil sofra com uma seca histórica, crise hídrica, incêndios florestais e desmatamento sem precedentes, o presidente Jair Bolsonaro não participou de nenhum dos eventos. Além da insegurança hídrica, as ameaças do clima no Brasil significam insegurança energética, perdas econômicas e sociais. Enquanto biomas são degradados no Brasil, o país, sob Bolsonaro, assume um papel de vilão global. Até mesmo boicotes aos produtos do agronegócio brasileiro são cogitados pela comunidade internacional.

Mudanças climáticas

Eventos extremos que o presidente argentino atribui ao processo de destruição do planeta são cada vez mais constantes em todo o mundo. Relatório recente das Nações Unidas alerta que o aquecimento global chegou em um ponto sem retorno, com elevação de 1,2 grau desde a industrialização. Cabe agora aos países trabalharem para mitigar os desdobramentos das catástrofes, além de impedir o agravamento da crise. “Os efeitos irão se reverberar por entre as economias, comunidades e ecossistemas, apagando ganhos de desenvolvimento, agravando a pobreza, aumentando a migração e exacerbando as tensões”, argumenta Amina.

A especialista acredita que ações duras para limitar as emissões de gases do efeito estufa, além da preservação de biomas e de recursos naturais, podem evitar maiores colapsos. “Isso, desde que sejam dados passos ousados e decisivos rumo a uma economia global de emissão líquida zero carbono até 2050. Durante a COP-26, a comunidade internacional deve discutir novas metas sobre o clima. Será o encontro mais importante desde a assinatura do Acordo de Paris em 2016. A conferência também marca a volta dos Estados Unidos como protagonista no debate, após uma ruptura durante a gestão negacionista do ex-presidente Donald Trump, par ideológico de Bolsonaro.

Desigualdades e controvérsias

Entre as discussões em pauta está a amplificação de desigualdades ocasionada pelas mudanças climáticas. “Países e populações no mundo todo – particularmente aqueles mais vulneráveis e menos responsáveis pela crise climática – viverão consequências ainda mais devastadoras. Atuar agora é uma questão de justiça climática. E temos as soluções “, destacou Amina.

Na cúpula latino-americana, Fernández também alertou sobre o tema. Ele lembrou que nenhum país do bloco está entre os mais poluentes do mundo, entretanto, a região deve ser uma das mais afetadas. “Precisamos de justiça social ambiental, que é o novo nome para o desenvolvimento em nossa região. Temos a necessidade de pensar em mecanismos inovadores que nos permitam reconstruir e fortalecer melhor os laços de cooperação para cuidar de nossos territórios e comunidades”, disse. O argentino ainda saudou a postura do presidente norte-americano, Joe Biden, em reestabelecer “uma agenda do clima como uma prioridade política e econômica em nível global”.

A relevância da COP-26 para a humanidade fez com que mais de 1.500 ONGs internacionais assinassem uma carta para pedir o seu adiamento. Isso porque o mundo sofre com a desigualdade vacinal. No enfrentamento da pandemia de covid-19, países mais pobres não conseguem avançar com a vacinação, o que pode provocar a ausência de representantes destes países na conferência. A ausência pode ser motivadora de mais desigualdades, alertam as entidades. E o agravamento das desigualdades também está entre os fatores de destruição do planeta, uma vez que não há sustentabilidade possível para economias concentradoras de riqueza.


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“Faltando apenas duas semanas, é evidente que uma conferência do clima segura, inclusiva e justa é impossível. Em razão das falhas de suporte no acesso a vacinas para milhões de pessoas em países pobres, dos altos custos de viagem e hospedagem e da incerteza no curso da pandemia”, afirmam. Entre as signatárias, entidades de relevância como a WWF, o Greenpeace e a Conservation International.

A exclusão pode ser, inclusive, determinada por medidas sanitárias do Reino Unido. A Escócia, assim como Inglaterra, Irlanda, Irlanda do Norte e País de Gales, adotam uma “lista vermelha” da covid-19. Estão nesta lista países com baixa porcentagem de vacinas aplicadas. “Uma COP presencial no início de novembro excluiria na prática os delegados de muitos governos, ativistas da sociedade civil e jornalistas. Particularmente dos países do Sul Global, vários dos quais na lista vermelha que o Reino Unido adota para a Covid-19”, prosseguem as ONGs.

O presidente da COP-26, Alok Sharma, não se manifestou sobre o adiamento do evento. Mas garantiu esforços junto ao governo britânico para garantir a presença de delegados de toda a comunidade internacional. “Garantir que as vozes daqueles mais afetados pela mudança climática seja ouvida é uma prioridade. Se queremos honrar nosso planeta, precisamo que todos os países e a sociedade civil tragam suas ideias e suas ambições para Glasgow”, disse.