Crise ambiental

Conferência Brasileira de Mudança do Clima busca metas mais ambiciosas

Com o governo Bolsonaro ausente, conjunto da sociedade se reúne em esforço para avançar nas metas de combate à crise ambiental e climática

Fotos Públicas
Fotos Públicas
Esta é a quarta edição do relatório Fronteiras, publicado pela primeira vez em 2016. Naquele ano, o PNUMA havia alertado para riscos crescentes de doenças relacionadas a zoonoses. Isso, quatro anos antes da pandemia de covid-19

São Paulo – A 3ª edição da Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC) começou nesta segunda-feira (27), no Rio de Janeiro. O evento reúne organizações não governamentais, movimentos sociais, povos tradicionais, governos subnacionais, comunidade científica e os setores público e privado interessados em implementar medidas de adaptação e mitigação da crise climática. Até sexta-feira, CBMC conta com debates e painéis, com transmissão online, que irão refletir sobre os caminhos da retomada do necessário compromisso climático firmado pelo Brasil.

De acordo com a gerente-executiva de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, Marina Ferro, um dos principais objetivos da conferência é construir metas mais ambiciosas para a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil.

“O objetivo é demonstrar que a sociedade brasileira está comprometida no combate à crise climática”, ressaltou a diretora do Instituto Ethos, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual nesta terça (28).

O NDC é um índice estabelecido pelo Acordo de Paris (2015) que determina o compromisso de cada país para a redução de emissões de poluentes. O acordo estabelece que essa meta deve ser revista a cada cinco anos, objetivos mais audaciosos a cada revisão. Contudo, o NDC apresentado pelo governo Bolsonaro neste ano foi considerada pouco ou nada ambicioso, praticamente repetindo os mesmos parâmetros apresentados anteriormente.

Marina lembra que o CBMC nasceu em 2019, quando Bolsonaro, recém-eleito, cancelou a oferta para sediar a COP 25, Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde então, as ameaças ao meio ambiente se agravaram. Ela aponta que, até agosto, foram registrados 86 mil focos de queimadas em todo o país.

Compromissos

Contudo, apesar da política de devastação ambiental levada a cabo pelo governo federal, o intuito da CBMC, segundo Marina, é demonstrar o engajamento dos demais atores sociais com a agenda de preservação ambiental.

“A urgência dessa pauta climática está no centro dos debates dessa edição. É uma ação multissetorial que aglutina a visão da sociedade brasileira em torno da crise. Lembrando que lutar contra essa crise é uma condição para a nossa existência daqui para frente. Se não olharmos para isso, a gente não garante a vida, tanto dos ecossistemas quanto da sociedade como um todo, para as futuras gerações”, acrescentou.

Ponto de não retorno

Globalmente, Marina também destaca a urgência da pauta climática. Ainda mais após o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, divulgado no mês passado. Nesse sentido, o documento confirma que a ação antrópica (dos seres humanos) é a principal responsável ​​pelo aquecimento observado na atmosfera, terras e oceanos.

“Além disso, já atingimos aumento de 1,2° na temperatura terrestre. Sendo que o limite apontado como seguro pelos especialistas para a garantia da vida humana, é de no máximo 1,5°. Se a gente atingir essa marca, vamos ver o crescimento exponencial dos extremos climáticos, e o alcance de ponto de não retorno, com a autoconsumação desse ecossistemas inteiros”, frisou. Ela também destacou que também se aproxima esse ponto de não retorno para o bioma amazônico. Os cientistas apontam que, caso o desmatamento alcance 25% da sua área total, a Floresta Amazônica entraria num processo irreversível de savanização.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira