Estiagem

Seca leva 53 municípios do Centro-Sul a adotar racionamento de água

Moradores de pelo menos 53 municípios em São Paulo, Minas, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão sendo afetados. É um dos efeitos da estiagem severa

ParacatuNews/reprodução
ParacatuNews/reprodução
Além dos problemas no fornecimento de água, a seca ainda interfere nos ecossistemas

São Paulo – A população de pelo menos 53 municípios em estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste já está sendo afetada pelo racionamento de água. As bacias dos rios Grande, Paraná, Paranapanema e Paraguai – que banham São Paulo, Paraná, Minas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – estão sob os efeitos da estiagem severa. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (13) informa, com base em dados do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, que o Brasil teve a menor entrada de água nos reservatórios dos últimos 91 anos em seus períodos chuvosos – de setembro a março passados. 

Em Itu, no interior paulista, tem água nas torneiras dia sim, dia não, desde o início de julho, afetando 170 mil moradores. Os reservatórios têm o correspondente a 32% da capacidade. Na mesma região, a cidade de Salto também adotou rodízio. Em Rio Preto, 100 mil moradores ficam sem água de 13 a 20 horas por dia. A represa municipal, que produzia 450 litros por segundo, agora fornece 300. Há multa para quem insistir no desperdício: R$ 2,2 mil. Em Santa Fé do Sul, uma das represas secou e a outra opera com meia capacidade.

Racionamento de água

No Paraná, 29 municípios que compõem a região metropolitana de Curitiba, inclusive a própria capital, enfrentam rodízio. São 36 horas com água e outras 36 sem. Um sistema que tem atrapalhado a vida de muitas pessoas, entre elas donos de pequenos negócios, como bares e restaurantes.

A medida foi tomada pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) para afastar a possibilidade de colapso no sistema de abastecimento. Além do histórico de poucas chuvas, projeções meteorológicas indicam prolongamento da estiagem. Em julho, choveu 14,6 milímetros na região, diante da média histórica de 92,4 milímetros no mês. Há racionamento também no interior, nas cidades de Santo Antônio do Sudoeste e Pranchinha.

No Pantanal sul-mato-grossense, a falta de chuvas já afeta o abastecimento em cidades, como Coxim e Corumbá. As prefeituras usam bombas móveis para captação de água, por causa do afastamento das margens. Conforme a Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul), há risco de fornecimento intermitente em alguns sistemas de abastecimento, como em 2020. Embora tenha contratado a perfuração de 13 poços em localidades sujeitas à seca, não encontrou água. Várzea Grande, vizinha de Cuiabá, abriu licitação para contratar 40 caminhões-pipa.

A região da Grande Belo Horizonte também tem risco de desabastecimento. O Rio das Velhas, que abastece 60% da região, entrou em estado de alerta, conforme o Comitê da Bacia Hidrográfica. A Companhia de Saneamento de Minas (Copasa) informou ter reduzido a captação no rio em 500 litros por segundo. E que esse volume é compensado por outras fontes. A empresa, por ora, descarta racionar e conta com a ajuda da população. Há racionamento de água no interior, em cidades como Campanha e São Gonçalo do Sapucaí.

Período seco

No Sudeste e Centro-Oeste, o último período chuvoso foi mais curto, agravando a seca, que deve se prolongar até o fim de outubro. “Depois que chove, o tempo de resposta das bacias para normalizar o nível dos rios tem defasagem de dois a três meses”, disse ao Estadão Ibrahim Fantin da Cruz, especialista da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Após o período seco, o solo tem de ser encharcado, assim como os lençóis freáticos, que estavam exauridos. “Quando pensamos em mudanças climáticas, sabemos da importância da Amazônia para o transporte de umidade ao Sudeste e ao Centro-Oeste. Mas também é preciso pensar em (preservar) vegetações nativas locais, próximas dos mananciais, importantes para infiltração da água e alimentação de rios”, disse. 

Autoridades do setor elétrico recomendam a adoção de manobras para manter a vazão mínima, como forma de guardar água para atender demanda de energia nos próximos meses.

Na Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, em Rosana (SP), a baixa vazão já formou ilhas no leito do Rio Paraná, prejudicando a qualidade da água e a matando peixes, segundo relatório da Companhia Energética de São Paulo (Cesp). A queda no nível do rio levou à mobilização de equipes embarcadas para salvamento dos cardumes. Em 8 de julho, foram mobilizadas 16 equipes, com um barqueiro, um auxiliar e um biólogo especialista em ecologia aquática.

Peixes amazônicos

Peixes resgatados, como dourados, que figuram na lista de espécies ameaçadas de extinção, foram soltos em áreas do rio com maior volume de água. Foram identificados três trechos críticos, com risco de interrupção no fluxo de água. As operações resultaram na coleta de 1.740 peixes mortos de 11 espécies nativas e exóticas, entre as quais peixes amazônicos, como o pacu e o tucunaré. As equipes registraram sucessivos aumentos na mortandade em dias subsequentes, além de queda na qualidade da água.

Vistorias a pé, com uso de drone e de helicóptero, permitiram identificar um trecho de 14 quilômetros do Rio Paraná que poderia ficar totalmente isolado, em caso de nova redução de vazão. Já uma área de 60 hectares ao longo de uma ilha do lado sul-mato-grossense estava em risco de desconexão por baixa vazão, “com riscos iminentes de aprisionamento de peixes em quantidades consideráveis e ações de pescadores, por ser uma área de deslocamento de embarcações”.

A estiagem ainda afeta a navegação e a pesca em rios que irrigam o Pantanal, um dos mais relevantes biomas brasileiros. Em Cáceres (MT), na ultima segunda-feira (9) o nível era 54 centímetros mais baixo do quem em igual período do ano passado (85 centímetros). E muito menos que a média histórica, de 174 centímetros. O abastecimento da cidade ainda não foi afetado, mas a autarquia Águas do Pantanal já contrata caminhões-pipa para fazer frente ao risco de desabastecimento. Em Ladário (MS), o nível era de 84 centímetros, ante média histórica de 415 e, em Porto Murtinho, de 203 centímetros, para uma média de 532.

No dia 6 de julho, ao menos 40 toneladas de peixe morreram em tanques com redes instalados no reservatório da usina do Manso. Com a crise hídrica, o lago estava com pouca água e a usina operava com apenas 25% de sua capacidade. Com isso, houve registros de mortandade menor nos dias seguintes.


Leia também


Últimas notícias