Credibilidade em extinção

Bolsonaro vai à cúpula do clima com ‘pecha de mentiroso’, diz ambientalista

Antes referência nas questões ambientais, Brasil de Bolsonaro é visto agora com grande preocupação pela comunidade internacional durante Cúpula do Clima que começa nesta quinta-feira

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Com discursos e práticas destrutivas, Bolsonaro e Salles comprometeram a credibilidade do Brasil em relação às questões ambientais

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro participa nesta quinta-feira (22) da abertura da Cúpula do Clima. O encontro, convocado pelo governo dos Estados Unidos, reúne de forma remota os líderes de 40 nações para o combate às mudanças climáticas. Antes referência global no assunto, o governo brasileiro é alvo de uma enxurrada de críticas. A participação do Brasil no evento foi antecedida por uma série de protestos, manifestos e cartas abertas que contestam a política ambiental do atual governo.

Artistas brasileiros e estrangeiros lançaram uma campanha para que o presidente estadunidense, Joe Biden, não feche nenhum tipo de acordo com o governo brasileiro. No mesmo sentido, há duas semanas, um grupo de cerca de 200 entidades brasileiras – reunindo movimentos sociais, indígenas, ambientalistas e organizações ambientais – também publicou carta aberta na qual alegam que o governo Bolsonaro “não tem legitimidade” para representar o Brasil em questões ambientais. Por outro lado, 24 dos 27 governadores brasileiros enviaram outra carta aberta em que se comprometem com o combate à “emergência climática global”, passando ao largo das articulações do governo federal.

Também nesta quinta (22), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), publicaram artigo, no jornal Folha de S.Paulo, em que apontam o “legado trágico” do atual governo Bolsonaro na questão ambiental. Afirmam que é pela “via democrática” que o Brasil deve superar tal legado. Para poder, então, voltar a cooperar com a comunidade internacional, “como protagonista e não como pária”, no esforço de combate às mudanças climáticas.

Mentira como método

No ano passado, em discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro atribuiu a indígenas e caboclos a responsabilidade pelas queimadas na Amazônia. Já o fogo no Pantanal seria decorrente das “altas temperaturas” na região. Além disso, afirmou que os focos “criminosos” são combatidos pelo seu governo “com rigor e determinação”. No entanto, mais uma vez, os fatos e os números desmentem o presidente.

Levantamento divulgado segunda-feira (19) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que o desmatamento da Floresta Amazônica em março foi o maior registrado para o mês em 10 anos. Com 810 km² de floresta desmatados, a taxa é 216% superior à registrada em março de 2020.

Apesar das trágicas estatísticas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, prometeu reduzir o desmatamento da Amazônia em 40% nos próximos doze meses. Para tanto, ele reivindica que os países desenvolvidos doem US$ 1 bilhão para que o país possa investir em políticas de fiscalização e controle. No entanto, o próprio Salles foi denunciado pelo então superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, por obstruir investigação sobre extração ilegal de madeira na região. Por pressão de Salles, o delegado foi afastado da sua função.

Expectativas

Para o agrônomo Leonardo Melgarejo, integrante do movimento Ciência Cidadã, Bolsonaro se apresenta diante da comunidade internacional carregando consigo “a pecha de mentiroso”, por conta do seu histórico de declarações inverídicas. “Por isso vai ser muito difícil que ele consiga convencer as Nações do mundo sobre as suas ‘boas intenções’. Essa contradição entre o discurso e o gesto não vai ser aceita com facilidade durante a cúpula”, disse o especialista em meio ambiente. Para ele, qualquer promessa apresentada pelo governo brasileiro deverá ser encarada como descrédito pelos representantes dos demais países.

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Redação: Tiago Pereira