risco de seca

Nível de água das represas da Grande São Paulo acende sinal de alerta

Chuvas melhoram em agosto, mas reservatórios que abastecem a região metropolitana da capital paulista estão 12,6 pontos percentuais abaixo de igual período de 2019

Reprodução
Reprodução
Cenas da margem do Sistema Cantareira seco podem voltar a se tornar comuns em São Paulo

São Paulo – As represas que abastecem a Grande São Paulo fecharam o mês de agosto em níveis mais baixos que os registrados em igual período do ano passado, apesar de as chuvas terem ficado acima da média em todos os reservatórios da região. Enquanto em 31 de agosto de 2019, os reservatórios estavam com 69% da capacidade, neste ano ficaram em 56,4%. A diferença de 12,6 pontos percentuais equivale a 246 milhões de litros de água. Volume suficiente para abastecer a Grande São Paulo por aproximadamente três meses.

A pior situação é a do Sistema Cantareira, conjunto de represas que abastece 8,1 milhões de pessoas na região metropolitana da capital paulista. O sistema fechou agosto com 47,9% da capacidade – contra 50,3% no ano passado –, operando no chamado estado de atenção. A partir de 40% da capacidade tem início o estado de alerta e a redução da retirada de água pela Sabesp. Com exceção do sistema São Lourenço, todos os demais estão abaixo dos níveis registrado em 2019.

O sistema Alto Tietê registrava 90,6%, em 2019, hoje está com 65,2%. A represa de Guarapiranga estava com 84,6% no ano passado, agora tem 50,8%. O reservatório de Cotia tinha 95,5%, mas agora está com 75,1%. O sistema Rio Grande, na represa Billings, operava com 98,8% da capacidade, há um ano, agora opera com 77,4%. E o sistema Rio Claro tinha 101,9%, hoje tem 68,3%. Os dados são do monitoramento de mananciais da Sabesp.

Tempo seco

Dados da agência de meteorologia Climatempo não trazem otimismo para a situação das represas da Grande São Paulo. Segundo a agência, a maior parte da Região Sudeste do Brasil vai continuar sob a influência uma grande massa de ar seco e quente. Com isso predominam temperaturas acima da média e chuvas abaixo da média durante todo o mês. O que pode levar os reservatórios a níveis críticos.

No final de maio, os dados de mananciais da Sabesp registraram que as represas da Grande São Paulo viveram o outono mais seco da história. Em março desse ano, choveu pouco mais da metade da média histórica para o mês. Já em abril choveu apenas 7,45% da média – o Sistema Cantareira recebeu só 2,2 milímetros de chuva. Em maio, choveu 31,9% da média. Os índices são os mais baixos registrados pela companhia paulista desde 2000 – primeiro ano da série histórica.

A redução das chuvas no outono registrou índices piores do que os observados durante a seca de 2014 e 2015, que levou o Sistema Cantareira a retirar água do chamado volume morto e provocou falta de água e racionamento na região metropolitana da capital. Mesmo em 2013, último ano antes da seca, os índices de chuva para março, abril e maio foram melhores do que os atuais: em 2020 o total de chuva recebido pelo sistema foi de 889 milímetros (mm), contra 2.149 mm em 2013. Em 2000, pior ano até então, choveu 1.282,7 mm no início do período seco.

Especialista alerta

O professor Ricardo Moretti, do Programa de Planejamento e Gestão do Território da Universidade Federal do ABC, considerava a situação preocupante já em junho. “A Grande São Paulo vive em risco de falta de água o tempo todo. Temos uma das mais baixas disponibilidade hídricas – quantidade de água disponível – do mundo. Um outono muito seco é preocupante, já que a mudança no clima está tomando ares dramáticos e traz insegurança sobre as chuvas do verão. É um quadro muito grave”, avaliou.

Documento apresentado pela Sabesp à Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), a que a RBA teve acesso, mostra que a redução nas chuvas entre outubro e janeiro chegou a 43% na represa Billings. Também houve queda de 39% precipitação na Guarapiranga e de 33% no Sistema Cantareira.

Represas da Grande São Paulo

A Grande São Paulo conta com sete reservatórios de água para abastecimento. O Sistema Cantareira é o maior e atende 8,1 milhões de pessoas nas zonas norte, central e cidades ao norte da capital; Cotia atende 409 mil pessoas dos municípios de Cotia, Embu, Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu, Vargem Grande, Barueri, Jandira e Itapevi; Alto Tietê atende 3,3 milhões de pessoas da zona leste e municípios do entorno.

O Sistema Guarapiranga abastece 3,7 milhões de pessoas da zona sul. O Sistema Rio Claro abastece 1,5 milhão de pessoas do bairro de Sapopemba, na Capital, e parte dos municípios de Ribeirão Pires, Mauá e Santo André. E o Rio Grande, que é um braço da Billings, abastece 1,2 milhão de pessoas no ABC. O Sistema São Lourenço entrou em operação em 2018 e atende cerca de 2 milhões de pessoas na região oeste da Grande São Paulo.


Leia também


Últimas notícias