Risco de extinção

Entidades latino-americanas pedem à OEA ações de proteção às abelhas

As 219 entidades querem que a Organização recomende medidas urgentes em relação aos agrotóxicos envolvidos na morte de colmeias

Hugo Oliveira/Ibama
Hugo Oliveira/Ibama
Com o extermínio das polinizadoras, as espécies que dela dependem também serão extintas. É o caso de 80% das espécies vegetais dos diferentes biomas

São Paulo – Entidades ligadas à defesa do meio ambiente, saúde, direito, agroecologia, reforma agrária e até associações zen-budistas de praticamente todos os países latino-americanos querem que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos adote medidas efetivas em defesa das abelhas.

Entre elas, recomendar aos países-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) que declarem as abelhas como Patrimônio Natural Nacional pelo fato de a “polinização” ser essencial na preservação da diversidade biológica e, consequentemente, na garantia do direito humano à alimentação adequada.

E também que, em cada país, sejam adotadas medidas urgentes de precaução em relação aos agrotóxicos de ação sistêmica, com a imediata revisão das indicações de uso dos princípios ativos e dos próprios produtos formulados de substâncias que, conforme evidências científicas, tenham impacto sobre a saúde e o comportamento das abelhas. O objetivo é a proibição definitiva desses produtos.

Mortandade de abelhas por agrotóxicos põe em risco produção de alimentos e biodiversidade

E como não podia deixar de ser, as organizações pedem a recomendação para a proibição da liberação no ambiente de agrotóxicos que comprovadamente causem a morte das colmeias. Trata-se de inseticidas da classe dos neonicotinoides e à base de fipronil, e dos herbicidas que têm glifosato na sua formulação.

Em documento enviado à Relatoria Especial sobre Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca), os ativistas pedem também a recomendação para ações concretas para promoção da biodiversidade e proteção dos habitats favoráveis às abelhas e toda a fauna polinizadora. Para subsidiar o trabalho dos integrantes da relatoria, o documento em forma de livro reúne 201 estudos indexados nos principais periódicos científicos do mundo, organizados conforme as substâncias.

Clique aqui para ler o documento na íntegra.

Em extinção

Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e um dos maiores pesquisadores do melhoramento de plantas e biotecnologia, Rubens Onofre Nodari anota no prólogo de Abelhas & Agrotóxicos – Compilação sobre as Evidências Científicas dos Impactos dos Agrotóxicos sobre as Abelhas: “Centenas de estudos já foram publicados com os efeitos de pesticidas em abelhas, geralmente com resultados adversos às abelhas. De forma geral os estudos encontraram efeitos agudos e/ou efeitos crônicos, dependendo da dose usada no estudo. Mais recentemente os estudos sobre efeitos adversos em abelhas com doses sub-letais de pesticidas aumentaram”.

Integrante do Movimento da Ciência Cidadã, Nodari destaca que as abelhas são consideradas “um organismo imprescindível à sobrevivência da espécie humana no planeta” e “sua perda será catastrófica para a humanidade”.

E que são os mais importantes agentes polinizadores. As mais de 25 mil espécies participam da polinização de cerca de 50% a 80% das espécies vegetais de diferentes biomas e em mais de 70% dos cultivos agrícolas. Portanto, sem abelhas, grande parte da vegetação não se reproduzirá. E nem boa parte dos alimentos que chegam à mesa.

Para saber mais, assista:

As opções diante da humanidade são claras: um futuro livre de venenos para salvar as abelhas, os agricultores e agricultoras, nossa comida e a humanidade. Ou continuar o uso de venenos, ameaçando nosso futuro comum e caminhando cegamente para a extinção. Tudo pela arrogância de que podemos substituir as abelhas com a inteligência artificial e os robôs.

Vandana Shiva


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