Risco

Rachaduras comprometem barragem 60 vezes maior que a de Brumadinho

Ministério Público investiga problemas detectados pela Polícia Ambiental na barragem de rejeitos de mina de ouro da canadense Kinross, em Paracatu (MG)

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Barragem recebe rejeitos contaminados com substâncias tóxicas usadas no processamento do minério na maior mina de ouro a céu aberto do Brasil

São Paulo – As comunidades que vivem a menos de um quilômetro da mina Morro do Ouro, da mineradora canadense Kinross, em Paracatu, nordeste de Minas Gerais, há muito perderam o sossego. Diariamente, às três e meia da tarde, há a detonação de bombas cada vez mais potentes, já que a mineração chega às rochas mais duras. Trincadas, as casas parecem que vão cair. Dormir tornou-se difícil porque as máquinas trabalham ininterruptamente. Sem contar a contaminação do sangue por causa do arsênio usado na mineração do ouro, como contaram moradores em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Da semana passada para cá, porém, estão apavorados. Uma das barragens de rejeitos, a barragem de Eustáquio, com capacidade de armazenamento 60 vezes maior que a da Vale que se rompeu em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, passou a ser investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

Segundo reportagem do Observatório da Mineração publicada nesta quinta-feira (12), o MPMG instaurou um Inquérito Civil Público para investigar o comprometimento do aterro compactado da barragem de Eustáquio a partir de uma denúncia da Polícia Militar Ambiental, que detectou fissuras, início de processos erosivos e prováveis comprometimentos geotécnicos da estrutura.

Em operação desde 1987, a mina Morro do Ouro é a maior extração a céu aberto do metal precioso do Brasil, responsável por 22% da produção nacional. A Kinross extrai 17 toneladas por ano em Paracatu. Em 2019, a mineradora anunciou como receita total das suas operações globais US$ 3,4 bilhões, cerca de R$ 17 bilhões pela cotação atual. De lá saiu boa parte dos 700 kg de ouro roubado em agosto de 2019, no aeroporto de Guarulhos.

Em dez anos, chegará ao fim a vida útil da mina. O município perderá a arrecadação anual do imposto pago pela empresa, os 1,8 mil empregos diretos e 3 mil terceirizados. Restará apenas o passivo ambiental, que inclui a degradação do solo, da cobertura vegetal original e a contaminação das águas. Sem contar a saúde das pessoas.

Clique aqui para ler a reportagem na íntegra.

Confira imagens aéreas da barragem:

Após a publicação, a Kinross entrou em contato com a RBA por meio de sua assessoria de imprensa.

Em nota enviada à redação, afirma que a barragem “encontra-se estabilizada e sem qualquer comprometimento em sua estrutura”, “que a segurança da barragem é atestada por especialistas nacionais e internacionais, que adotam procedimentos de engenharia realizados de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o ICOLD (Comitê Internacional de Grandes Barragens)”, e que. há “laudos técnicos que atestam sua estabilidade e são fiscalizadas por instituições públicas federais, como Agência Nacional de Mineração (ANM), e estaduais (IGAM, FEAM e SUPRAM).”

A Kinross esclarece ainda que possui plano de emergência “sempre atualizado”, que “realiza, em parceria com a Defesa Civil Municipal, o Corpo de Bombeiros e das Polícias Civil, Militar, Ambiental e Rodoviária Estadual e Federal, treinamentos com comunidades vizinhas à barragem sobre como proceder em situações de emergência”.

·E que as alterações denunciadas resultam “de um processo erosivo superficial e pontual causado pelas chuvas recentes na região. Este fato é esperado durante o período chuvoso e não altera a estabilidade e a segurança das barragens”. Além disso, as erosões já haviam sido identificadas pelas equipes de monitoramento de barragens, “que atuam 24 horas por dia, e as ações corretivas já foram realizadas’.

·Segundo a empresa, há equipes treinadas para monitorar as estruturas, “que realizam inspeções visuais quinzenais”, “leitura e análise dos instrumentos instalados nas barragens. Além disso, a empresa trabalha com uma Sala de Controle, que possibilita um monitoramento 24 horas de suas estruturas por meio dos instrumentos e câmeras instaladas. É importante ressaltar que não há nenhuma indicação de alteração nos instrumentos instalados nas barragens”.

·E que mantém programa de visitas às suas barragens, “viabilizando condições para que informações sobre as estruturas sejam repassadas à comunidade e autoridades, da forma mais transparente possível. Em 2019, foram recebidos, para ver de perto a segurança das barragens, 1200 visitantes e o programa de visitas de 2020 já se iniciou.”