CARÊNCIA DE RECURSOS

País não tem equipamentos para monitorar vazamento de óleo, diz professor da Uerj

Segundo oceanógrafo, é urgente que o país invista em infraestrutura permanente para monitorar ocorrências como o crime ambiental que impacta o Nordeste

reprodução yotube
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Zee: “Tem que ter um ‘big brother’ em cima desses pontos, porque não podemos contar unicamente com a ética das empresas que produzem petróleo de denunciar quando há um vazamento”

São Paulo – O vazamento de óleo nas praias do nordeste indica que o país precisa investir urgentemente num centro permanente de comando e gestão de riscos. “Não se pode, na hora em que ocorre um acidente, reunir um bando de pessoas e ver no que vai dar”, afirma o oceanógrafo David Zee, professor adjunto da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Segundo Zee, os órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental do território marinho não têm um sistema de monitoramento por satélite, nem pessoal especializado para vigiar pontos de alto risco de vazamento de petróleo. “Tem que ter um ‘big brother’ em cima desses pontos, porque não podemos contar unicamente com a ética das empresas que produzem petróleo de denunciar quando há um vazamento”, sugere.

O aparecimento de óleo nas praias do Nordeste ao longo dos últimos 60 dias, a morosidade em retirá-lo do mar e as dificuldades para concluir as investigações mostram que de fato “não estamos preparados para lidar com uma crise e gerir um plano de contingência, uma vez ocorrido o acidente”, diz Zee à IHU On-Line. Segundo ele, depois de acionado o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (PNC), “pouca coisa funcionou, porque faltou equipamento, faltou treinamento e faltou um planejamento de comando”.

Na entrevista, concedida por telefone à jornalista Patricia Fachin, ele lamenta que recursos oriundos dos royalties do pré-sal não tenham sido destinados a criar um plano de contingência efetivo. “Infelizmente, a divisão desses recursos é feita entre estados, municípios e a União, e na hora de aplicar esses recursos, o que se percebe é que o governo federal aplica alguma coisa, mas na esfera estadual se investem menos recursos e na esfera municipal menos ainda. Percebemos que muitos municípios costeiros que receberam royalties do petróleo transformaram esses recursos em porcelanato para cobrir a avenida beira-mar”.

Zee defende ainda que as empresas de petróleo, que têm centros de pesquisa ultrassofisticados de exploração, invistam na prevenção e na contingência de riscos. “Não quero demonizar a indústria do petróleo, mas assim como o Brasil é campeão em produção em águas profundas, tem alta tecnologia de prospecção em águas profundas, ele também poderia ser campeão no planejamento, na prevenção, na contingência, para quando acontecerem acidentes. Poderíamos dar um exemplo para o mundo de como somos capazes de preservar os recursos marinhos, ainda mais agora, que o Brasil pleiteia o aumento do seu território marinho, com a Amazônia Azul”.

Confira a entrevista.