Desastre

Óleo chega ao litoral do Rio. Pescadores denunciam venda de peixes contaminados na Bahia

Três meses depois da identificação das primeiras manchas no Nordeste, governo diz não saber quantidade de óleo derramado; comunidade denuncia "maquiagem" de indústria pesqueira

Reprodução e Marcos Corrêa/PR
Reprodução e Marcos Corrêa/PR
Voluntários atuam nas praias atingidas pelo óleo, jamais visitadas por Bolsonaro, que fala em crime durante evento em clube militar do Rio de Janeiro

São Paulo – Fragmentos de óleo de procedência ainda desconhecida chegaram ao litoral do estado do Rio de Janeiro. Em nota divulgada neste sábado, o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Ibama, confirmou que ontem (22), cerca de 300 gramas de pequenos fragmentos de óleo foram detectados e removidos na Praia de Grussaí, em São João da Barra, litoral norte fluminense.

Descobertas há quase três meses, em 30 de agosto, as manchas de óleo já foram vistas em mais de 350 praias da região Nordeste. O presidente Jair Bolsonaro disse hoje (23) que não há como saber quanto de óleo foi derramado. Segundo o presidente, é preciso estar preparado para o pior cenário. E volta a fala em “ato criminoso” sem que tenha sido identificada a origem do óleo e ainda trabalhe com hipóteses.

“Gostaríamos muito que fosse identificado quem, no meu entender, cometeu esse ato criminoso. Agora, não sabemos quanto de óleo tem no mar. Na pior hipótese, um petroleiro, caso tenha jogado no mar toda sua carga, menos de 10% chegou à nossa costa”,  disse Bolsonaro durante evento na Vila Militar, zona oeste do Rio de Janeiro.

Segundo o comunicado do GAA, o material foi analisado pelo Instituto de Estudo do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) e constatado como compatível com o óleo encontrado no litoral da região Nordeste e Espírito Santo. Um grupamento de militares da Marinha já está no local efetuando monitoramento e limpeza. Servidores do IBAMA se juntarão hoje à equipe.

Contaminação e comércio

A grande indústria está maquiando e oferecendo à venda peixes contaminados pelo óleo vazado no Nordeste, segundo pescadores artesanais da região. “A pesca industrial atrapalha porque eles fazem propaganda de que o produto está bom para consumo, mas todo mundo sabe que não está. Eles vencem com o interesse maior do comércio, do capital, de dizer que tá tudo bem, mas na verdade não tá tudo bem”, relata Raimundo Siri, da comunidade Cova da Onça, no baixo sul da Bahia.

Ele afirma que os industriais têm usado propagandas enganosas para conseguir vender o produto infectado pelo desastre ambiental. “A estratégia deles é de usar as redes sociais, as mídias, de certa forma, para fazer propaganda, usando os órgãos ambientais para fazer análise de água, análise de peixe, análise de mariscos, para dizer que tá tudo bem”.

O gosto da contaminação é indisfarçável, conta a pescadora e marisqueira Gilsa Maria Silva, de Aracaju. As vendas, em razão disso, estão inviabilizadas. Leia reportagem completa do Brasil de Fato.


Com informações da Agência Brasil