Cidades do Mato Grosso denunciam toneladas de peixes mortos por hidrelétrica
Controlada pelos governos do Brasil e da França, usina é acusada de ter passado por cima da lei e provocado mortandade de 80 mil peixes em rio na Amazônia
Publicado 02/10/2019 - 14h40
São Paulo – Uma hidrelétrica controlada pelos governos do Brasil e da França é acusada de matar 80 mil peixes na Amazônia. De acordo com denúncia do Ministério Público Estadual de Mato Grosso, o rio Teles Pires, localizado na região e que faz divisa com o Pará, teve a vida de suas espécies subaquáticas comprometidas por conta de um crime ambiental causado pela Sinop Energia, concessionária controlada pelas empresas estatais Electricité de France (EDF) e Eletrobras.
Durante o enchimento do reservatório da hidrelétrica, toda a vegetação do local escolhido para abrigá-lo deixou de ser removida pela concessionária e essa grande quantidade de biomassa começou a se decompor dentro d’água. “Ao se decompor a gente tem um problema muito sério”, explica o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro à Rádio Brasil Atual. “(Isso) diminui a oxidação da água e faz com que diversas formas de vida, principalmente peixes, tenham uma falta de condição para se manter e reproduzir.”
Esse processo levou a uma mortandade de 13 toneladas de peixe, expondo ainda um rastro de morte de 25 quilômetros ao longo do rio. De acordo com reportagem da BBC News Brasil, a devastação atingiu as cidades de Cláudia e Sinop entre 30 de janeiro e 4 de fevereiro, mas em menos de seis meses do crime ambiental a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso garantiu o aval para funcionamento da usina em 20 de agosto.
“O que a gente acaba assistindo muitas vezes é que aquilo que é escrito, assinado e acordado não é cumprido, então nós não temos muitas vezes capacidade técnica”, explica o professor. “O desmonte do Estado, seja na escala estadual, como nesse caso, seja na escala federal, de fato colabora para que esse tipo de ação acabe sendo adotada e culmina com a impunidade.”
A Sinop Energia foi multada em R$ 50 milhões por conta da devastação no rio Teles Pires. Desde setembro, o Ministério Público Federal busca a suspensão da licença de operação concedida pelo governo estadual para a operação da hidrelétrica por entender, assim como o MP estadual, que existe responsabilidade da concessionária sobre a mortes dos peixes, além de apontar diversas inviabilidades da usina sob o ponto de vista ambiental.
Confira a entrevista na Rádio Brasil Atual