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Demissão de diretor tira liderança do Inpe no setor de pesquisa, diz Wagner Ribeiro

Diretor do Inpe foi exonerado, na sexta-feira (2), após rebater críticas de Bolsonaro a dados de desmatamento

INPE/FACEBOOK
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'inpe é uma instituição com liderança no campo de processamento de imagens de satélite. Isso tudo se perdeu'. lamenta Wagner Ribeiro

São Paulo – O governo Bolsonaro exonerou, na última sexta-feira (2), o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, após o presidente criticar os dados sobre o desmatamento na Amazônia. A demissão é considerada uma intervenção grave, que ataca os cientistas e retira do instituto a liderança no campo da pesquisa, avalia Wagner Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental.

Considerando um afronta aos cientistas, Wagner teme que a demissão seja o primeiro passo para retaliações mais duras de Bolsonaro. “É uma intervenção grave e afronta os pesquisadores e o processo de escolha do Inpe, que é baseada em uma avaliação técnica e feita por especialistas. O presidente parece não saber que existem outras formas de monitoramento do desmatamento que corroboram os dados no Inpe”, disse, ao lembrar das críticas feitas pelo presidente sobre os dados que apontaram mais de  mil quilômetros quadrados de floresta amazônica foram derrubados, na primeira quinzena deste mês – aumento de 68% em relação a julho de 2018.

De acordo com o professor, em termos práticos, o Inpe perde a liderança no processo de pesquisa. “Isso rouba do Brasil o protagonismo numa área importante. “O Inpe é uma liderança, que capacita gente de diversos países, faz parcerias com a Nasa. É uma instituição com liderança no campo de processamento de imagens de satélite. Isso tudo se perdeu, só pelo fato do Inpe cumprir o Artigo 225 da Constituiçãol, que pede a proteção do meio ambiente”, lamentou Wagner.

Ricardo Galvão estava no Inpe desde 1970 e cumpria mandato à frente do órgão até 2020. A demissão, que já era esperada, foi anunciada por ele mesmo após reunião que teve com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

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