Terceirização

Ricardo Salles quer contratar empresa controlada por canadenses para monitorar Amazônia

Segundo a Junta Comercial de São Paulo, consultoria Santiago & Cintra é controlada pela Blackbridge Corporation, situada em Lethbridge, província de Alberta. Companhia é uma das gigantes do setor de armazenamento de dados

Fabio R. Pozzebom/Abr
Fabio R. Pozzebom/Abr
Ministro quer contratar empresa para fazer o monitoramento realizado atualmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

São Paulo – O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles pretende terceirizar o monitoramento do desmatamento da Amazônia. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo publicada hoje (3), Salles recebeu representantes da empresa paulista de geoprocessamento Santiago & Cintra, que ele pretende contratar para fazer o monitoramento realizado atualmente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O órgão é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, chefiado pelo astronauta Marcos Pontes.

A reportagem da RBA apurou que a Santiago & Cintra, no entanto, é controlada pela Blackbridge Networks Ltd. Situada em Lethbridge, província de Alberta, Canadá, a companhia é uma das gigantes do setor de armazenamento de dados. Opera como um provedor de serviços de tecnologia e oferece serviços de replicação e backup, nuvem híbrida corporativa e rede a clientes em todo o mundo. Os dados coletados na Amazônia estariam sendo geridos por empresa que tem no setor uma de suas fontes de lucro.

Segundo a Junta Comercial de São Paulo (Jucesp), a Blackbridge é sócia da empresa, com valor de participação na sociedade de R$ 600.000,00. Os dois outros sócios somam R$ 78.000,00.

Ainda conforme a Folha, a Santiago & Cintra Amazônia foi contratada pelo governo do Pará para prestar serviço de fornecimento de imagens e dados de desmatamento. Iniciado em março de 2017 com a promessa de melhorar o combate ao desmatamento, mas o Pará continua sendo o estado mais problemático do país.

Alertas

Do começo do ano até 15 de maio, o Inpe enviou aos órgãos de fiscalização 3.860 alertas de desmatamento, obtidos por um sistema chamado Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter-B), do órgão. Ou seja, uma média de 28,6 alertas/dia. A reportagem da Folha informa que um novo monitoramento de desmatamento, a partir de um convênio sem custos, administrado por uma iniciativa que envolve ONGs, universidades e empresas de tecnologia para mapear o uso da terra – a MapBiomas – já forneceu ao Ibama 1.845 alertas de desmatamento, em março. Os dados resultam de diversos bancos de dados, como o Deter-B, o  Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o  Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e são acompanhados de laudos que incluem até imagens de alta resolução da área antes e depois do desmatamento.

Apesar disso, o Ibama só aplicou 850 multas por desmatamento na Amazônia Legal no mesmo período, ou seja, 6,2/dia. O baixo número se deve à política de combate às fiscalizações e de punição aos agentes fiscalizadores implementada por Ricardo Salles, com aval do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

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