Nem filtro, nem fervura

‘Coquetel’ com 27 agrotóxicos é apenas ‘amostra grátis’ de contaminação das águas

Com pouco mais de 500 produtos autorizados pelo governo, número de substâncias que contaminam água pode ser muito superior, como adverte pesquisadora Larissa Mies Bombardi

Cesan/Divulgação

“Isso, digamos, que é uma amostra grátis da realidade que envolve a contaminação de água no Brasil”, aponta pesquisadora

São Paulo – A água consumida pelos brasileiros pode estar contaminada por muito mais que 27 pesticidas identificados pelo Ministério da Saúde. O alerta é da pesquisadora do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi, autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Dados compilados e divulgados nesta semana pela ONG Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye, com base em amostras das empresas de abastecimento de 1.396 municípios, indicam que a água de uma a cada quatro cidades está contamina por agrotóxicos. Mas, como adverte Larissa, os 27 pesticidas foram encontrados apenas porque seu uso está condicionado por lei a testes obrigatórios, desconsiderando, no entanto, a avaliação de outros tipos de agrotóxicos que têm utilização permitida no país, um número que chega a ser superior a 500. “Há outros 400 e tantos agrotóxicos que sequer são investigados. É algo mais grave do que a gente está vendo”, avalia a pesquisadora. 

Entre as centenas de substâncias que são deixadas de lado pela legislação está o Acefato, um tipo de inseticida, proibido na União Europeia, mas que figura entre os 10 mais vendidos no Brasil, de acordo com Larissa. “Ele pode estar presente (na água) e estar tudo certo, porque a legislação não faz menção a essa substância”, descreve.

Só entre os 27 agrotóxicos identificados, 16 são considerados altamente tóxicos e 11 estão diretamente associados ao desenvolvimento de doenças crônicas e disfunções hormonais e reprodutivas, ressaltando o potencial ofensivo à saúde e ao meio ambiente desse tipo de substância. “Isso, digamos, que é uma amostra grátis da realidade que envolve a contaminação de água no Brasil”, destaca a pesquisadora.

Ouça a entrevista na íntegra

 

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