Natureza sob ataque

Vital na produção alimentar, polinizadores são ameaçados pelo uso de agrotóxicos

No Brasil, pelo menos 91 plantas alimentícias dependem da polinização animal, principalmente aquela feita pelas abelhas, agora sob risco de extinção

Hugo Oliveira/Ibama

O estudo mostra que a polinização representou, em 2018, R$ 43 bilhões para o país, sendo que 60% desse valor oriundo da soja

São Paulo — Importantes para a produção de frutos e alimentos consumidos pela população, animais e insetos polinizadores estão ameaçados de extinção devido ao desmatamento desordenado e ao uso de agrotóxicos na lavoura. É o que demonstra estudo sobre polinizadores e produção de alimentos no Brasil realizado por Antônio Mauro Saraiva, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) 

“Muitas plantas dependem da polinização para a produção dos frutos e das sementes, e que no caso da agricultura são os produtos que nós consumimos, então para a agricultura isso é fundamental,” explica Saraiva, em entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

“A agricultura alimentícia é dependente desses insetos, sobretudo as abelhas”, afirma o coordenador do Laboratório de Automação Agrícola e do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação (BioCamp) da USP. 

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Segundo o professor, há uma variedade grande de polinizadores. No Brasil, são ao menos 91 plantas alimentícias que dependem da polinização animal, enquanto outras — como milho e trigo — têm sua polinização feita pela ação do vento. A abelha é o principal polinizador, mas há outros, como aves, morcegos, besouros e vespas, por exemplo. “As abelhas são as grandes polinizadoras das plantas de interesse alimentício.” 

No caso da soja, Antônio Mauro Saraiva classifica sua dependência da polinização como “modesta”, porém, devido à importância do produto na economia do Brasil, o impacto pode ser muito elevado. Como exemplo, o estudo mostra que, em termos econômicos, a polinização representou, em 2018, R$ 43 bilhões para o país, sendo que 60% desse valor oriundo da soja. 

O estudo revela que são muitos os agrotóxicos utilizados no Brasil e que são prejudiciais às abelhas. No entanto, no caso específico delas, o cenário é ainda mais grave porque as análises de quais agrotóxicos são prejudiciais, e em qual dosagem, são feitos apenas considerando a espécie conhecida como “abelha europeia”, excluindo outras espécies nativas existentes no Brasil.  

“Há vários produtos sobre os quais não temos informação, é uma lacuna de conhecimento que precisa ser preenchida com mais pesquisa”, pondera o professor da Escola Politécnica da USP.