Cinema denúncia

Documentário denuncia crime periódico contra atingidos por barragens

Lançado nesta terça-feira, filme traça diagnóstico sobre a saúde física e mental dos moradores da Bacia do Rio Doce atingidos pela lama tóxica da Samarco em 2015

Corpo de Bombeiros MG/Reprodução

Crime da Samarco devastou a Bacia do Rio Doce e atingiu mais de 1 milhão de moradores da região

São Paulo – Depois do rompimento de uma barragem, o crime ambiental não acaba, é perene. Além das perdas humanas e materiais, a população atingida pela lama tóxica do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, ainda sofre com a tristeza e graves problemas de saúde.

Para relatar esse drama que atinge milhares de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças que vivem ao longo do rio Doce, o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) lança na noite desta terça-feira (5) o documentário Renova – O Crime Periódico. A data marca os três anos e três meses de impunidade do crime das mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton.

“O rompimento da barragem de rejeitos de Fundão não deixou apenas o rastro de destruição causado pelos mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Por todos os 600 quilômetros por onde a lama passou, atingidos das 39 cidades entre Minas Gerais e Espírito Santo relatam problemas de saúde causados pelo rompimento e também denunciam a atuação das mineradoras dentro da entidade responsável pela reparação das vítimas”, afirma o MAB. “O documentário traz um panorama sobre as consequências dos rejeitos para a saúde dos moradores e a perpetuação do crime até os dias atuais.”

Doenças e transtornos psicológicos

O Instituto Saúde e Sustentabilidade, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e o Greenpeace, realizaram, entre 2017 e 2018, exames de saúde em moradores de Barra Longa, um dos municípios mais afetados pela lama. Problemas respiratórios foram relatados por 40% dos entrevistados. Para as crianças de até 13 anos, o índice alcançou 60%. E 15,8% dos entrevistados estão com afecções de pele. Mais de 80% dos atingidos, que participaram do levantamento apresentaram sintomas de problemas emocionais. A insônia é o mais frequente, atinge 36,9% dos entrevistados, inclusive crianças entre 6 a 13 anos (taxa de 19%).

Além destes relatórios, exames de sangue realizados em 11 moradores de Barra Longa comprovaram alto nível de níquel no organismo dos atingidos. A substância é capaz de causar doenças de pele, queda de cabelo, entre outras doenças. Os exames confirmaram também a contaminação por arsênio e nível de zinco abaixo do necessário para o corpo humano.

O lançamento ocorre quando, novamente, outro crime ambiental destrói a vida e o ambiente em Minas. Além das centenas e mortos e desaparecidos, os atingidos pela lama tóxica da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, já apresentaram sintomas de saúde, como coceiras, náuseas e feridas na pele.

“Os rejeitos da Vale já contaminaram o rio Paraopeba e devem comprometer também o São Francisco, um dos principais recursos hídricos do país, que banha mais de 500 municípios brasileiros”, avalia o MAB. “Cerca de 18 milhões de pessoas devem ser prejudicadas com a contaminação desse leito. Mais do que nunca é imprescindível investigar, refletir e descobrir quais as implicações com o contato e ingestão da lama e da água contaminada.”

Renova negligencia atingidos

A Fundação Renova, entidade responsável pela reparação das vítimas, também é foco do documentário do MAB. Segundo atingidos, entidades e juristas a entidade atua em favor das mineradoras e negligencia todos os direitos dos atingidos.

“Para se ter uma ideia, o reassentamento da cidade de Bento Rodrigues, distrito totalmente devastado pela lama, só teve uma casa construída. Ainda hoje, há municípios que são abastecidos por caminhão pipa”, relata o MAB.

Assista ao trailer de Renova – O Crime Periódico