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Ministro do Meio Ambiente: ‘Que diferença faz quem é Chico Mendes neste momento?’

Entrevistado do programa 'Roda Viva', Ricardo Salles afirmou ainda que o ambientalista reconhecido mundialmente “não faz diferença neste momento”

Memorial Chico Mendes

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São Paulo – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não perde a chance de dar declarações desastrosas, reforçando seu desconhecimento sobre os temas diretamente envolvidos na pasta que comanda. Entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (11), foi questionado a respeito de sua sua opinião sobre Chico Mendes.

“Olha, eu não conheço Chico Mendes. Eu tenho um certo cuidado em dizer, falar sobre coisas que eu não conheço. Eu escuto histórias de todo lado. Do lado dos ambientalistas, os mais ligados à esquerda, o enaltecimento do Chico Mendes. As pessoas que são do agro, que são da região, dizem ‘olha, Chico Mendes não era isso que é contado…'”, afirmou.

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A aparente serenidade do ministro desapareceu quando uma entrevistadora quis saber o que que o “pessoal do agro” diz a ele sobre o líder seringueiro assassinado por fazendeiro em 22 de dezembro de 1988, na própria casa.

“Que o Chico Mendes usava os seringueiros para se beneficiar, fazia uma manipulação da opinião”, respondeu. Questionado sobre a “manipulação” para se “beneficiar” vinda de uma liderança reconhecida internacionalmente e duas vezes agraciada com um prêmio da ONU, perdeu a paciência. “Eu sou muito pragmático. E o fato é irrelevante. Que diferença faz quem é o Chico Mendes neste momento?”

Sobre as Nações Unidas, emendou: “Mas a ONU reconhece um monte de coisa errada também… A ONU tem umas pautas….”

Chico Mendes significa tudo o que Ricardo Salles e seus amigos ruralistas querem destruir: uma floresta conservada, “porque nós sabemos que ela pode garantir o futuro de todas as pessoas que vivem nela”, como dizia o líder que inspira ambientalistas em todo o mundo 30 anos após ser assassinado.

O líder sindical e ambiental tornou-se patrono do órgão de proteção do meio ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que assim como o Ibama, é uma pedra no sapato do agronegócio.

O seringueiro, que já vinha recebendo ameaças, foi vítima de uma emboscada nos fundos de sua casa, a mando de Darly Alves, grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil. O tiro foi disparado por Darci Alves, filho de Darly. A pressão internacional foi determinante na prisão e condenação dos criminosos em 1990, fato até então inédito na Justiça brasileira.

Os dois foram condenados em 1990 a 19 anos de detenção, mas fugiram da prisão em 1993, sendo recapturados em 1996. Em 1999, Darly saiu do presídio para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. Darci, no mesmo ano, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semiaberto.

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