Após o crime

Medidas de contenção da Vale parecem insuficientes e demandam ação do Estado

Avaliação é do professor da USP e geógrafo Wagner Ribeiro, que aponta como cerne da questão o sistema de licenciamento de barragens no Brasil, que precisa ser aprimorado e aplicado pelo governo

Valter Campanato/EBC

Presidente da Vale: eliminação das barragens em até três anos. Paralisação deveria ser imediata, defende Ribeiro

São Paulo – O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou em entrevista coletiva nesta terça-feira (29) que eliminará, em um período de três anos, as dez barragens construídas de modo semelhante à de Mariana e Brumadinho, todas localizadas em Minas Gerais (MG).

A proposta, que trata exclusivamente da eliminação do método de alteamento a montante, quando são feitos degraus com rejeitos para contenção dos reservatórios, prática considerada a mais simples e barata por especialistas, pode até soar como uma solução, mas na prática ela ocorre tardiamente e de forma preliminar, como avalia o professor do departamento de Geografia e do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro.

“Não fica claro que é uma intenção de fato, ou se é um plano de emergência. O que deveria ser feito, prontamente, é a paralisação desses lugares”, explica o professor aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Além de ressaltar a importância de mais estudos e avaliações técnicas para a criação de medidas que evitem outros crimes ambientais por empresas mineradoras, Ribeiro destaca que a questão central, ainda pouco discutida, trata sobretudo do sistema de licenciamento e reparação, que acaba ficando nas mãos das empresas. “Nós temos essa dificuldade. O empreendedor apresenta o estudo quando, na verdade, deveria ser o Estado a produzir essa análise”, contesta o professor.

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