Alerta de especialistas

Excesso de agrotóxicos contribui para redução no número de abelhas

Pulverização aérea diminui número de colmeias e já afeta a produção de apicultores. Possível aprovação do Pacote do Veneno pode agravar ainda mais o cenário

TVT/Reprodução

Em São Paulo, estudos apontam que quase 255 milhões de abelhas foram mortas por conta de aviões pulverizadores

São Paulo – O uso crescente de pulverizadores aéreos de agrotóxicos tem aumentado o risco de extinção de abelhas e contribuído para a redução na produção dos apicultores brasileiros. O alerta feito por especialistas tem como base estudos realizados pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que apontaram, em um período de três anos, a morte de quase 255 milhões de abelhas em 78 cidades de São Paulo. Apesar de se tratar de uma pesquisa local, segundo especialistas, a situação é semelhante no resto do território nacional.

De acordo com o presidente da Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias (Apacame), Constantino Zara, os agricultores brasileiros têm privilegiado o uso de pulverizadores aéreos devido ao seu alcance e rapidez de aplicação, sem levar em conta a alta quantidade de neonicotinoides (classe de inseticidas derivados da nicotina) que são despejados. “Eles têm causado uma devastação tremenda na fauna”, garante o presidente.

O Brasil dispõe hoje, segundo Zara, do segundo maior número de aviões pulverizadores, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que junto com a Europa teve nos últimos 25 anos o número de colmeias reduzido pela metade.  “Eles (produtores) têm perdido 500 colmeias em uma florada. É um prejuízo grande”, adverte, sobre o impacto de agrotóxicos no trabalho de polinização e na morte das abelhas.

Para a engenheira agrônoma Lúcia Sales, a situação pode piorar com a aprovação do Pacote do Veneno, que afrouxa regras na produção agrícola. “Nós temos uma lei de agrotóxico que era uma lei boa, se fosse implementada”, explica Lúcia, descrevendo uma série de ataques que a legislação vem sofrendo. “Tudo está interligado, a alimentação saudável está ligada a uma questão de soberania.”

Assista à reportagem de Leandro Chaves: