riscos no abastecimento

Sistema Cantareira está próximo de entrar em estado de alerta

Nível do volume útil armazenado está em 40,2% e, caso diminua mais 0,3 ponto percentual, terá que atender a uma retirada de água menor

Reprodução/TV Câmara

Entrada de água no Cantareira é a segunda pior já registrada no mês de julho: apenas 7,50 metros cúbicos por segundo

São Paulo – Os reservatórios do Sistema Cantareira devem entrar em estado de alerta até o próximo domingo (29). Com o nível do volume útil armazenado caindo diariamente desde abril, o sistema chegou a 40,2% de sua capacidade nesta sexta-feira (27) – número muito abaixo do período pré-crise hídrica, em 2013, quando acumulava 53,9%.

Hoje, o Cantareira está na faixa de atenção – quando se opera entre 40% e 60% de sua capacidade total. Entretanto, quando alcançar os 39,9%, o sistema entrará na terceira faixa: a de alerta. Esses limites foram estabelecidos em 2017, quando a Agência Nacional de Águas (ANA) determinou, por meio da Resolução Conjunta 925, os limites de retiradas de água pela Sabesp. 

De acordo com Edson Aparecido da Silva, organizador do Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama), a capital paulista caminha para uma nova crise hídrica, pois a situação atual é pior do que a de 2013. “O quadro não demonstra melhora e tem se agravado pela falta de chuva”, alerta.

Dados da Sabesp apontam que pluviometria acumulada no mês é de apenas 1,2 mm até esta sexta, enquanto a média de chuvas em julho é de 48,7 mm. Antes da crise, o mesmo período obteve uma pluviometria acumulada de 73,9 mm.

O professor de Hidrologia e Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Antonio Carlos Zuffo não acredita que São Paulo terá problemas com abastecimento, pois aposta no El Niño – fenômeno climático que provoca chuvas acima da média. “A partir de outubro começa o período chuvoso novamente e deve haver uma recuperação. Até lá deve haver água, o problema é se chover pouco a partir de outubro”, afirma.

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Comparação do atual nível do Cantareira com o período pré-crise, em 2013. Registros atuais são mais baixos e preocupa

O boletim da ANA mostra que, na última quarta-feira (25), as vazões afluentes médias, ou seja, o volume de água que entra no sistema Cantareira, chegaram a 7,50 metros cúbicos por segundo. O número é o segundo pior da história para o mês de julho, apenas acima de 2014, período extremo da crise, quando a média foi de 6,43 metros cúbicos por segundo. 

Mesmo com a baixa vazão afluente, a Sabesp possui a permissão de retirar 31 metros cúbicos por segundo, mas tem retirado 23,08 metros. Segundo Edson Aparecido, a companhia de recursos hídricos deveria diminuir ainda mais esta retirada. “O Cantareira demonstra uma queda expressiva, então a Sabesp deveria trabalhar na perspectiva de usar menos água dos reservatórios”, explica.

As vazões afluentes no Cantareira estão em queda desde o começo do ano. Em janeiro, ele apresentava a entrada de 57,37 metros cúbicos por segundo. Além disso, todos os meses deste ano apresentam as piores médias de entrada de água desde 2015.

Quando o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) decretou o fim da crise hídrica, em março de 2016, a média de vazões afluentes era de 49,55 metros cúbicos por segundo. Porém, em igual período deste ano, o sistema contava com apenas 35,57 metros cúbicos.

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Gráfico mostra a média de entrada de água no sistema Cantareira. Desde janeiro deste ano, média cai consecutivamente

Além da falta de chuvas

Apesar do problema da seca em São Paulo, os especialistas afirmam que não há segurança hídrica, já que o sistema continua dependendo das chuvas para se abastecer. O coordenador do Fama lembra que nenhuma medida estrutural foi tomada pela Sabesp ou pelo governo do estado para conter esse problema.

“Já passou do momento de a Sabesp adotar uma política ostensiva para a redução de consumo de água, retomar o programa de bônus. Só não entramos no volume morto porque o sistema conta com novas interligações, mas isso não será sustentado a longo prazo”, alerta Edson. “As grandes cidades aumentam, a demanda também, mas o sistema é o mesmo”, acrescenta Zuffo.

O professor da Unicamp lembra que outro problema visto é a perda física no sistema de distribuição de água. “Em São Paulo, supera os 40%, ou seja, é um reservatório Cantareira sendo perdido por dia”, lamenta. 

Edson Aparecido diz que há a necessidade de manter essas matas no entorno. “Na região metropolitana, um dos principais responsáveis pelo desmatamento é o estado, por exemplo, com a construção do RodoAnel, que desmatou muita vegetação em torno das represas Billings e Guarapiranga”, critica.

Já Antonio Carlos Zuffo não vê relação entre a falta de água e o desmatamento que ocorre no entorno dos rios que abastecem o Cantareira. Entretanto, diz que a vegetação é importante para a água possuir boa qualidade. 

Na terça-feira (24), à rádio CBN, o secretário estadual de Recursos Hídricos, Ricardo Daruiz, afirmou que as obras anteriores do governo do estado irão garantir o abastecimento e que não haverá racionamento de água. “Infelizmente, de quatro em quatro anos a situação se repete. Como é ano eleitoral, o governo insiste em não assumir que estamos diante de uma possível crise de abastecimento. Na nossa opinião, isso é uma irresponsabilidade. O ideal seria o governo estadual se antecipar a essa crise”, aponta Edson.