Em evento da indústria de agrotóxicos, deputada defende ‘Pacote do Veneno’
Além da presidenta da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada Tereza Cristina, Edivaldo Velini, integrante da CTNBio - que aprova transgênicos - também discursou em defesa desses produtos
Publicado 14/06/2018 - 19h25
A deputada Tereza Cristina, durante palestra realizada por entidades dos fabricantes de agrotóxicos
São Paulo – A deputada Tereza Cristina (DEM-MS) participou hoje (14), em São Paulo, do Fórum Inovação para Sustentabilidade na Agricultura, realizado pela CropLife Latin América e Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). As duas entidades são mantidas pelas maiores indústrias de agrotóxicos e insumos agrícolas. O jornalista William Waack foi o moderador do debate do evento.
Integrante da bancada ruralista, Tereza Cristina é presidenta da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e da comissão especial criada na Câmara para apressar a aprovação de 27 projetos de Lei apensados ao PL 6.299/02, de autoria do então senador Blairo Maggi, hoje ministro da Agricultura. A maioria desses projetos propõe a revogação da atual lei dos agrotóxicos. A ideia é facilitar o registro, produção, venda, transporte e utilização de agrotóxicos – o Pacote do Veneno.
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A Crop Life Latin America é uma organização da qual fazem parte sete companhias e uma rede de 25 associações em 18 países da América Latina. Entre elas, a Bayer CropScience, a FMC, a Syngenta, a Basf, a DowDuPont, a Sumitomo Chemical e Monsanto, nos retoques finais para incorporação pela Basf. É uma das seis regionais afiliadas a CropLife International, a Federação Global da Indústria da Ciência dos Cultivos.
A Andef atua “na defesa da produção de grãos, fibras e energias renováveis, respeitando o homem e o ambiente, promovendo o uso correto e seguro desses produtos e visando à melhoria da produtividade e qualidade da produção agrícola”. É constituída por 13 empresas: Arysta LifeScience, Basf, Bayer CropScience, Dow AgroSciences, DuPont, FMC do Brasil, Iharabras, Isagro, ISK Biosciences, Monsanto, Nichino Brasil, Sumitomo Chemical e Syngenta. São as mesmas empresas com interesse direto na aprovação do Pacote do Veneno rejeitado pela sociedade e por entidades.
“Utilizamos apenas 9% do nosso território para plantar, gerar emprego e renda para o país. Buscar inovação e segurança para nossa agricultura é o dever do legislador”, disse a deputada Tereza Cristina, durante evento sobre inovação e sustentabilidade na agricultura.
Relator da comissão, o também ruralista Luiz Nishimori (PR-PR) elaborou um substitutivo no qual desprezou todas as sugestões de entidades de saúde e meio ambiente. Considerou apenas as apresentadas pelos interessados na aprovação do pacote. Pela agenda da comissão, o relatório já deveria ter sido votado e aprovado, mas houve grande pressão de entidades e da sociedade. O relator anunciou mudanças no seu texto, mas pode coloca-lo em votação a qualquer momento.
Pelo teor das mensagens postadas diariamente em suas redes sociais, como o Twitter, Nishimori não deverá fazer mudanças em seu relatório. Pelo menos, não agregar recomendações da Anvisa, do Ibama, Ministério Público Federal e do Trabalho, Fiocruz e outras 200 que assinaram notas técnicas e manifestos.
Transgênicos
Outro que deu palestra no evento é o integrante da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o professor da Unesp de Botucatu Edivaldo Domingues Velini. Ex-presidente da comissão que está sendo investigada pelo Ministério Público Federal por conflitos de interesses na sua atuação no colegiado, Velini falou sobre o controle de pragas, doenças e plantas daninhas na agricultura brasileira, do passado ao futuro.
As indústrias que fabricam agrotóxicos são as mesmas que produzem sementes transgênicas, geralmente modificadas em laboratório para que as plantas venham a resistir a doses cada vez maiores desses produtos que contaminam o solo, as águas e causam doenças graves, como câncer e malformações, fora as intoxicações que afetam os trabalhadores rurais.