Temerário

Ruralista em órgão do Meio Ambiente de Alckmin é retrocesso, diz ambientalista

Em meio ao processo de afrouxamento do licenciamento ambiental, que aumentará os impactos, secretário Ricardo Salles empossa nomes ligados ao agronegócio para Câmara de Compensação Ambiental

Arquivo/Fundação Florestal

Unidades de Conservação do estado devem ser preservadas com recursos da Câmara de Compensação Ambiental

São Paulo – A nomeação do advogado Francisco Godoy Bueno, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), e do agrônomo Evaristo de Miranda, da Embrapa, para a Câmara de Compensação Ambiental, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, é criticada pelo ambientalista Carlos Bocuhy.

Presidente o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) e integrante do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), Bocuhy afirma ser preocupante que o secretário Ricardo Salles escolha e dê posse a Bueno, um amigo pessoal. “Isso se torna ainda mais grave quando avançam na Câmara projetos que afrouxam as regras de licenciamento ambiental no país.”

Bueno é membro do Movimento Endireita Brasil, fundado por Salles, que também é advogado e já foi diretor jurídico da SRB.“O estado cede espaço a pessoas que têm olhar mais desenvolvimentista e não tão cauteloso como deveriam ter. Vamos ter um retrocesso num momento muito delicado, em que o licenciamento ambiental está sendo revisto. E com a influência da bancada ruralista no Congresso Nacional, essa revisão tende a ser para pior. E num contexto assim haverá mais impacto ambiental, o que vai demandar mais recuperação ambiental”, afirmou.

O vice-presidente da SRB e o agrônomo da Embrapa substituem o biólogo Ricardo Rodrigues, professor e pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba, indicado pelo Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e Ana Luisa da Riva, ex-diretora-executiva do Instituto Semeia, indicada pela ex-titular da pasta Patrícia Iglécias.

“Rodrigues é considerado uma das pessoas mais ilustres no Brasil quando o assunto é biodiversidade. Ele fez um mapeamento no estado que identifica quais as áreas que carecem de investimento para proteger a biodiversidade ainda existente ou ameaçada. Isso dá a ele conhecimento técnico aprofundado sobre planejamento ambiental com foco em biodiversidade e reflorestamento para as unidades de conservação”, explicou Bocuhy.

Evaristo de Miranda, da Embrapa, é outro nome polêmico. Agrônomo com mestrado e doutorado em Ecologia, apresentou estudos científicos próprios, favoráveis aos interesses da bancada ruralista, durante discussões do novo Código Florestal no Congresso, os quais contrariam a maior parte da comunidade científica.

A Câmara de Compensação Ambiental é responsável pela gestão de um montante de R$ 250 milhões, oriundos de compensação ambiental, que devem ser investidos obrigatoriamente em benefício das unidades de conservação do estado. É constituída por oito membros, incluindo o secretário adjunto do Meio Ambiente, mais três representantes da pasta, um representante da Cetesb, um do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), e dois representantes da sociedade civil.

Ao jornal O Estado de S. Paulo Salles afirmou que Bueno é “uma pessoa supercorreta e de extrema confiança”, que “somos amigos, não tem problema nenhum”, que “o resultado prático dessa visão filosófica de laboratório é justamente a ineficiência dos trabalhos que foram feitos até agora”, disse, referindo-se a Rodrigues. “Não por outra razão temos necessidade de investimento, manutenção e recuperação de diversas unidades de conservação. Os recursos estavam disponíveis e não foram investidos exclusivamente por uma questão de má gestão.

E disse mais: “Não há na secretaria a necessidade de pessoas que conheçam meio ambiente, porque o maior acervo de conhecedores de meio ambiente do estado de São Paulo (já) está dentro da secretaria.”

Salles, de 41 anos, filiado ao Partido Progressista (PP), assumiu a Secretaria de Meio Ambiente em julho deste ano, sem ter ligação prévia com a área ambiental. Foi secretário particular do governador Geraldo Alckmim (PSDB); e sua indicação para a SMA foi noticiada como resultado de um acordo político entre os dois partidos, em troca do apoio do PP à candidatura do tucano João Doria à prefeitura de São Paulo.

Com informações de O Estado de S.Paulo