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Para pesquisador, Brasil precisa aprender a explorar a riqueza hídrica da Amazônia

Segundo Ennio Candotti, país precisa agir antes que outros comecem os trabalhos. Para ele, ribeirinhos e indígenas podem ser a solução

Luciana Macêdo/Fotos Públicas

Para Candotti, a Amazônia é um laboratório que se move constantemente, graças ao desnível dos andes e do oceano

São Paulo – A riqueza hídrica da Amazônia – e o interesse que desperta, em tempos de anunciada escassez de água daqui para o futuro – foi discutida no 15º Congresso Internacional do Fórum Universitário do Mercosul (Fomerco). Para o pesquisador e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, os ribeirinhos e indígenas devem ser tratados como a solução para a defesa dos recursos naturais da região.

“Não há defesa de um território sem a participação do povo que lá habita. A vitória dos vietnamitas derrotando o mais poderoso exército do mundo se deu ao fato de que os camponeses apoiavam seus guerrilheiros. Para que a Amazônia seja um patrimônio potencial, passível de defesa, é necessário contar com o povo de lá. Por enquanto, os ribeirinhos, os indígenas que moram naquela região estão sendo tratados como parte do problema, ou seja, é preciso encontrar soluções para solucionar o problema de vida dessa gente. Mas eles são parte da solução, os guardas naturais das florestas”, aponta.

Segundo Candotti, os ribeirinhos e índios que vivem na floresta são quem conseguem viver e sobreviver ali. O pesquisador afirma que a Amazônia é um “laboratório” que precisa ser explorado pelo Brasil, não por alguém de fora. “A pressão para extrair riquezas dos patrimônios genéticos, minerais e hídrico é cada vez maior. Não adianta proibir, temos que chegar antes que os outros, temos que conhecer antes e melhor do que os outros, que atuam de maneira agressiva na região. É uma guerra que se trava e se continuarmos a desconhecer essa batalha, não teremos como atender aos interesses nacionais.”

“Você vê ambientalistas preocupados com o oceano subir dois centímetros, mas na Amazônia são 20 metros todos os anos, então, é um laboratório de imenso valor”, complementa.

O diretor da SBPC acredita que a Amazônia é um laboratório que se move constantemente, graças ao desnível entre os Andes, onde está sua nascente, e o oceano, onde desemboca. Esse curso mobiliza quantidades imensas de energias que poderiam ser melhor aproveitadas. “Pedras e rochas esponjosas, com cerca de 30% de água e profundidade de até dois mil metros, é uma quantidade imensa. Inclusive é possível que seja a razão da riqueza de águas, mesmo em estações secas dos rios, porque são rios de quilômetros de largura, e nas estações cheias sobem 20 a 30 metros. E uma massa incrível de água se movendo dos Andes ao Atlântico. A água é outro grande elemento desse patrimônio da bioquímica.”

O pesquisador afirma que não são necessárias obras gigantescas, mas é possível explorar a grande quantidade de água em fluxo e movimento para obter, por meio de pequenas usinas, um volume igual de energia, mas de maneira distribuída. “Quem vai desenvolver as soluções tecnológicas, senão nós mesmos? Porque somos nós os interessados. Então, como resolver toda a equação é uma questão de crédito, financiamento e organização.”

Ennio Candotti diz que para vários países a cooperação e integração é uma questão de complementaridade, de capacidade de enfrentar os desafios dos mercados mundiais. Mas para a Amazônia é uma condição necessária para transformar o patrimônio genético em riqueza. “Não se pode separar a Amazônia colombiana da brasileira, temos que planejar isso junto. A integração é o desafio que vejo pela frente.”

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