sujeira

Estudo da Cetesb mostra piora na qualidade da água na Billings

No ABCD, a situação é um pouco melhor em relação à encontrada no Estado; na região, índice de tratamento do esgoto subiu para 28,55%

Pedro França/Agência Senado

Principal manancial do ABCD paulista também dá sinais de caminhar para o esgotamento e de poluição

São Paulo – Segundo o Relatório das Águas Superficiais 2014 realizado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a escassez de chuva e falta de tratamento dos esgotos domésticos estão piorando a qualidade da água da represa Billings, principal reservatório da região do ABCD paulista, onde estão cidades como Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema, entre outras. De acordo com os dados, diariamente, 103.735 quilos de poluentes vão para a represa.

“Realmente houve uma piora. Em 2014 tivemos uma estiagem severa, o que dificultou o controle do afluente doméstico, ou seja, a diluição do esgoto”, explicou o gerente do Setor de Águas Interiores da Cetesb, Fábio Netto Moreno. De acordo com o Relatório das Águas Superficiais 2014 publicado pela Cetesb, o estado de São Paulo apresentou volume anual de chuvas no ano passado de 1.055 milímetros, o que equivale  a 26% menor que a média dos 19 anos anteriores.

Tratamento

O estudo ressalta, no entanto, que a falta de chuvas é apenas um dos fatores da piora na qualidade da água da represa. O outro é a redução do ritmo da evolução do índice de tratamento de esgotos domésticos, fenômeno que ocorre em todo o Estado. “Nos últimos três anos, o índice aumentou apenas 1% em cada ano (no Estado). Isso mostra que há uma evolução, mas ela é lenta, o que não contribui para a percepção de melhora da qualidade dos rios e represas”, argumentou Moreno.

No ABCD, a situação é um pouco melhor em relação à encontrada no Estado. Conforme os dados apurados pela Cetesb, por meio das autarquias de saneamento de esgoto, em 2013 os sete municípios da Região tratavam uma média de 25,85% do esgoto coletado. No ano passado, esse índice subiu para 28,55%.

Porém, isso ainda significa que 103.735 quilos de carga poluidora vão parar diariamente na Billings e nos córregos do ABCD. “No caso da Billings, além dos afluentes domésticos, ainda há a carga que vem do rio Pinheiros”, ressaltou o gerente da Cetesb.

Ainda conforme os dados da Cetesb, a cidade do ABCD que mais despejou esgoto na represa foi São Bernardo (33.612 kg/dia), seguida por Santo André (23.978 kg/dia), Mauá (23.223 kg/dia), Diadema (18.257 kg/dia), Ribeirão Pires (3.039 kg/dia), Rio Grande da Serra (1.371 kg/dia) e São Caetano (255 kg/dia), cidade que, apesar de tratar 100% do esgoto, ainda há uma sobra que segue para rio Tamanduateí. Sabesp, Semasa, Odebrecht Ambiental e DAE são as autarquias de saneamento que atendem a Região.

Prainhas

O Relatório das Águas Superficiais do Estado de São Paulo 2014 publicado pela Cetesb também indicou o Índice de Balneabilidade das praias nos reservatórios urbanos, caso da Billings. Os dados mostram que as prainhas do manancial do ABCD estão impróprias para o banho por terem coliformes fecais

As prainhas do clube de campo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Parque Municipal do Estoril, em São Bernardo, e clube Thaiti, em Ribeirão Pires, foram classificadas como regulares, e são impróprias para o banho em 25% do tempo. Já a prainha em frente à ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), próximo à barragem do Rio Grande, ao lado da rodovia Anchieta, foi classificada como péssima, ou seja, imprópria para banho em 50% do tempo.

Algas

A conta parece simples. Quanto mais esgoto jogado na Billings, maior será a concentração de fósforo, e consequente floração de algas/cianobactérias no manancial. Conforme o estudo da Cetesb, em alguns pontos de medição da represa, foi registrada em 2014 a maior média anual de concentração de algas em dez anos.

“Apesar disso, vale destacar que existe tecnologia para minimizar a quantidade de algas na represa”, observou o gerente do Setor de Águas Interiores da Cetesb, Fábio Netto Moreno. No entanto, Moreno esclareceu que o controle populacional das algas é realizado apenas no braço Rio Grande, onde a Sabesp realiza a captação de água para abastecimento público. “No resto da Billings não é feito porque não é usado para abastecimento”, disse.

Diante da elevação da quantidade de algas, a Billings registrou uma maior mortandade da vida aquática. Como exemplo, o documento cita a morte de milhares de moluscos Anodontites Trapesialis no reservatório Rio Grande. Tal organismo consta na lista estadual e federal de espécimes ameaçadas. Também houve a morte de bagres, lambaris e outros peixes no manancial. Conforme o relatório da Cetesb, as mortes estão relacionadas com a floração das algas e a redução do nível do reservatório.

O gerente da Cetesb afirmou que a piora da qualidade da água da represa Billings não afetou a qualidade da água distribuída pela Sabesp pelo sistema Rio Grande. “Toda a água é tratada e respeita a portaria 518 do Ministério da Saúde, antes de ser distribuída”, finalizou.

Mais riscos

Se de um lado a falta de chuvas contribuiu para a piora da qualidade da água da represa Billings em 2014, de outro, a falta de planejamento do governo do Estado de São Paulo ameaça o que ainda está preservado no manancial: o Rio Pequeno, considerado o braço mais limpo da represa. Para especialistas, a obra emergencial realizada pela Sabesp para socorrer o Sistema Alto Tietê, durante os meses de seca, pode prejudicar as águas do local. As obras devem ser finalizadas em setembro deste ano.

O projeto prevê a interligação do braço Rio Pequeno com o Rio Grande, também na Billings, para a transferência de 4 mil litros de água por segundo para a represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação de tratamento do Sistema Alto Tietê. No projeto original proposto no Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, concluído em 2013 pelo governo do Estado, haveria a construção de uma barragem no rio Pequeno para separá-lo do corpo central.

No entanto, para finalizar a obra mais rapidamente, a Sabesp desistiu da barragem. Sem ela, a partir do momento que começar a captação para o Rio Grande, a tendência é que o rio Pequeno se esvazie e a água do corpo central invada o local que até agora está preservado.

A justificativa da Sabesp é que o processo a ser realizado no rio Pequeno é igual ao que já é feito em outro braço da Billings, o Taquacetuba, que também é ligado ao corpo central da represa e mesmo assim, desde 2001, transfere 4 mil litros de água por segundo para a represa Guarapiranga. A água contribui com o abastecimento da zona Sul da Capital.

 

Leia também

Últimas notícias