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Sistema Rio Grande perde quase dez pontos em um mês e atinge menor reserva na década

Queda do nível se acentua após Sabesp elevar captação de água para abastecer a Grande São Paulo

andris bovo

Rio Grande, menor dos sistemas de abastecimento do estado, fornece água para Santo André, São Bernardo e Diadema

São Bernardo do Campo – O volume do braço de água mais limpa da represa Billings, onde é feita captação para tratamento e  abastecimento, se aproxima rapidamente da metade. Em 5 de outubro, o Sistema Rio Grande registrava o nível da água em 76,6%. Ontem (5), atingiu 67,9%, conforme dados da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp).  Foram 8,7 pontos percentuais de baixa em apenas 30 dias. Este é o menor percentual registrado pela reserva em dez anos no mesmo período do ano.

O Rio Grande, menor dos sistemas de abastecimento do estado, fornece água para Santo André, São Bernardo e Diadema, no ABC paulista. A queda dos últimos 30 dias foi a maior registrada desde junho deste ano, quando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ordenou que mais de 150 mil residências de Santo André passassem a receber água do manancial. Antes, essas famílias consumiam do Sistema Alto Tietê.

Com a seca do Cantareira (nível de 11,8% com o segundo volume morto) e do Alto Tietê, os demais reservatórios começaram a ser enxugados. Com isso, Alckmin fez com que a quantidade de água retirada do Rio Grande aumentasse no mês passado em 500 litros por segundo. A produção de água, porém, não foi alterada.

As medidas do governo Alckmin apenas postergaram o problema da seca no ABC para um futuro próximo, conforme avaliam especialistas. No caso dos andreenses, desde junho metade da cidade foi empurrada para ser abastecida pelo Sistema Alto Tietê, que ontem estava com 8,6% do volume total.

Em Santo André, os setores de abastecimento Camilópolis, Curuçá, Erasmo Assunção, Gonzaga e Parque das Nações são atendidos pelo Alto Tietê. As águas do Rio Grande chegam exclusivamente nos setores Paraíso e Vila Vitória. O restante da cidade recebe água de ambos os sistemas.

Guarapiranga

Alckmin anunciou esta semana que aumentará de 2 mil para 4 mil litros por segundo a transferência de água da Billings para a represa Guarapiranga. A Sabesp possui adutora no braço Taquacetuba. A água do Guarapiranga é tratada pela Estação Alto do Boa Vista. Ontem ele disse que aumentará a transferência da Guarapiranga para o Sistema Cantareira, aumentando em 7% a retirada de 14 mil litros por segundo.

O governador disse que serão construídas duas estações de tratamento que vão coletar esgoto e transformar em água de reúso. Essa água depois será revertida para os sistemas Guarapiranga e Alto Cotia.

Esgotamento do Alto Tietê agrava crise no ABC

Usado para amenizar o cenário crítico do Sistema Cantareira, agora é o Sistema do Alto Tietê que começa a agonizar perante a crise hídrica em São Paulo. O complexo, que é responsável por 50% do abastecimento de água em Santo André e 30% em Mauá, está na mira do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), que acusa a Sabesp de causar o esgotamento por descumprimento dos limites de captação de água.

Na ação civil pública, o relatório do MP atestou que a Sabesp não seguiu a outorga concedida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), de 26,8 milhões metros cúbicos retirados do Sistema Alto Tietê mensalmente. O volume efetivamente retirado nos últimos meses passa de 30 milhões.

O promotores do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) pontuaram que a Sabesp reconheceu não seguir o limite das vazões. Ainda de acordo com o MP-SP, o DAEE, por meio da diretora da Bacia do Alto Tietê e Baixada Santista, Seica Ono, esclareceu não ter fiscalizado os limites da outorga.

No documento, o MP pediu ao DAEE que determine à Sabesp reduzir o volume de água retirado do Alto Tietê, para ter 10% da capacidade máxima até abril de 2015, quando começaria a próxima estiagem. A Promotoria também determinou medidas de fiscalização acerca do cumprimento pela Sabesp do volume retirado.

Inicialmente, o juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública, Marcelo Sérgio, indeferiu a ação da Promotoria, alegando que o acato à solicitação acarretaria “interferência do Judiciário em ato de gestão”. No entanto, o MP-SP recorreu da decisão na segunda-feira (3).

Mauá conta com o Alto Tietê para abastecer o Polo Petroquímico, jardins Sônia Maria, Sílvia Maria, Oratório, parques São Vicente, Capuava e Santa Cecília. Desde o mês passado, o município foi o segundo a adotar oficialmente o racionamento de água, após Guarulhos.

Revezamento

De acordo com o superintendente da Saneamento Básico do Município de Mauá (Sama), Paulo Sérgio Pereira, o quadro do Alto Tietê deixa o cenário em Mauá ainda mais incerto. “Dentro do revezamento que estamos fazendo, está sendo o suficiente (economizar) sem prejudicar as regiões onde (o Alto Tietê) abastece, mas vemos com preocupação esse manancial. Se não houver chuva, isso vai prejudicar sensivelmente esses setores e bairros”, pontuou.

No mês passado, o superintendente do Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa), Sebastião Ney Vaz Júnior, não descartou racionamento em 2015, caso a crise hídrica não seja atenuada. “Existe esta possibilidade (de haver rodízio). Se a gente tiver problema de falta de água vamos adotar o rodízio”, resumiu. Bairros como Camilópolis, Curuçá, Erasmo Assunção e Parque das Nações são atendidos pelo Alto Tietê.

A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado, que responde pela Sabesp e DAEE, não atendeu à reportagem.