Leilão

Greenpeace diz que exploração de xisto ameaça aquífero e áreas de Acre e Mato Grosso

Representante do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo afirma que para extrair o recurso é preciso explodir as rochas injetando no subsolo grande quantidade de água, areia e produtos químicos

Creative Commons

O método de extração do gás xisto tem provocado questionamentos sobre a ameaça ao meio ambiente

São Paulo – O processo licitatório para a exploração de áreas de gás natural convencionais e não convencionais está previsto para o final deste mês. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) vai colocar à disposição 240 blocos exploratórios terrestres distribuídos em 12 estados do país. As reservas de gás em terra podem ultrapassar as do pré-sal. O xisto, gás não convencional utilizado por usinas hidrelétricas e indústrias é uma fonte de energia que, embora conhecida, permaneceu inexplorada durante décadas por falta de tecnologia capaz de tornar viável a sua extração.

O coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo, explica que o método de extração – o faturamento hidráulico – tem provocado questionamentos sobre a ameaça ao meio ambiente e às comunidade tradicionais brasileiras do Acre, do Mato Grosso, e ao Aquífero Guarani.

“Em função do impacto que já vimos com esta exploração nos Estados Unidos e Europa, principalmente sobre contaminação da água, considerando principalmente alguns blocos ofertados na região amazônica, a questão é bem delicada, os efeitos da contaminação da água sobre a saúde, e os sociais e psicológicos são enormes”, disse hoje (12) à Rádio Brasil Atual.

Para extrair o recurso é preciso explodir as rochas injetando no subsolo uma grande quantidade de água, areia, e produtos químicos. Segundo Baitelo, essa técnica traz risco de contaminação do lençol freático e de explosão por vazamento de metano. “Vemos a grande possibilidade de haver estes impactos. Até por uma questão do vazamento de metano, que é extremamente prejudicial para o aquecimento global, já tem um potencial maior que o Co2 para aquecer planeta, e a questão da água.”

Para discutir o tema e apresentar estudos sobres os impactos socioambientais causados pela exploração do gás de xisto, o Instituto Socioambiental, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o Greenpeace Brasil e outras entidades realizam seminário em São Paulo amanhã (13). O pesquisador do Ibase Carlos Bittencourt ressalta que é preciso prorrogar o leilão para que se possa fazer os estudos necessários antes de autorizar a exploração. O seminário é gratuito e ocorre no Hotel Comfort Suítes Oscar Freire, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, às 9h.

“Fomos pegos de surpresa por um leilão que já vai acontecer no final do mês, sem qualquer debate público, apenas com uma consulta pública feita pela internet, que não possibilita o questionamento do modelo como um todo. O seminário está sendo organizado para questionarmos esse leilão e no mínimo, adiá-lo”, defende.

Os especialistas defendem cautela na exploração do gás de xisto, pois em alguns países ocorreu o banimento ou a restrição da prática, diante das evidências científicas sobre impactos causados pela exploração comercial do gás. Na França, a exploração foi proibida. Na Holanda, houve adiamento das atividades por um ano. Nos Estados Unidos, algumas agências estaduais têm sido cuidadosas em relação à concessão de licenças.

Ouça aqui a reportagem de Anelize Moreira.