Amazônia Real

Portal jornalístico sobre a Amazônia aposta em abordagem independente

Criado por repórteres de Manaus, Amazônia Real foi lançado esta semana com a intenção de produzir conteúdo aprofundado em torno de questões socioambientais

Gerardo Lazzari/RBA

Ocupando 60% do território brasileiro, baixa presença de jornalistas contribui para a desproteção da Amazônia

São Paulo – Com a proposta de um jornalismo independente e aprofundado, com a cobertura de assuntos da região Amazônica, foi lançado esta semana o portal Amazônia Real. O site está no ar desde segunda-feira (21) e aborda temas socioambientais, como a questão agrária, os povos indígenas e a cultura.

Ocupando cerca de 60% do território do país, Amazônia, com uma superfície de 5.217.423 km², tem baixa densidade de jornalistas. Menos ainda de veículos independentes ao longo de Acre, Pará, Amazonas, Tocantins, Amapá, Rondônia, Roraima e parte do Mato Grosso e do Maranhão.

O portal foi criado por três jornalistas residentes em Manaus que tiveram experiência na cobertura da Amazônia para jornais impressos da mídia tradicional. Liège Albuquerque, Elaíze Farias e Kátia Brasil se juntaram para colocar em prática o projeto de manter um site em que pudessem realizar reportagens aprofundadas sobre toda a Amazônia. Para isso, elas pretendem manter o portal com recursos de publicidade e de entidades patrocinadoras.

A imensidão da região e a dificuldade de deslocamento a lugares remotos são um obstáculo a ser superado na cobertura jornalística. Elaíze Farias explica que a realização de grandes reportagens na Amazônia tem gastos elevados. “Se eu quiser me dedicar a uma pauta da questão indígena em São Gabriel da Cachoeira, eu gastarei R$  2 mil de passagens de avião. De barco consigo chegar em 4 dias, então é bem complicado.”

Apesar disso, a principal proposta das repórteres é investir em conteúdo que seja resultado de trabalho de campo e estudo. “Parcerias e recursos serão captados para fazermos nossas viagens. Vamos visitar aldeias indígenas e áreas de desmatamento”, afirma Elaíze. Amazônia Real será atualizado semanalmente, sempre às segundas-feiras.

As fundadoras reforçam a importância de aceitar recursos apenas de entidades que tenham um viés político parecido com a linha editorial do próprio site. “Nós não vamos aceitar publicidade de empresas que agridam o meio ambiente, por exemplo”, afirma a editora de conteúdo, Liège Albuquerque. Ela argumenta que a maioria dos veículos jornalísticos não esclarece por quem são bancados. “Seremos absolutamente transparentes ao informar quem está nos sustentando, no caso a publicidade.”

Amazônia Real tem a proposta de retratar a realidade de uma área repleta de histórias em que a cobertura jornalística atual é defasada, esclarece Elaíze. “Esse é um tipo de projeto que sempre passa pela cabeça dos repórteres. Não basta só colocar o que você pensa e acha. É um trabalho jornalístico de reportagens.”

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Elaíze Farias, Kátia Brasil e Liège Albuquerque: projeto de reportagens aprofundadas sobre a Amazônia

Para diversificar o conteúdo do portal, as repórteres convidaram dez colunistas para escrever sobre diversos temas específicos da região. Integram o site nomes como o arqueólogo Eduardo Góes Neves, que estuda a ocupação humana na Amazônia; o especialista em mudanças climáticas Paulo Artaxo e a antropóloga e pesquisadora dos povos indígenas Oiara Bonilla.

Liège Albuquerque explica que eles aceitaram colaborar com o site por acreditarem na proposta editorial e na cobertura aprofundada sobre a Amazônia. Elaíze Farias reforça que a equipe convidou colunistas que apostaram no projeto Amazônia Real. “Eles são fontes e entrevistados ao longo da nossa carreira jornalística que confiam no nosso trabalho.”

A editora-executiva Kátia Brasil atuou como repórter da Folha de S. Paulo durante 13 anos. Em 1991 ganhou o prêmio Esso de Jornalismo com reportagem “Bandeira do Brasil Hasteada na Fronteira” pelo jornal A Gazeta de Roraima. Liège Albuquerque é professora universitária desde 2004 e trabalhou em O Estado de S.Paulo, como correspondente no Amazonas de 2004 a 2011. Elaíze Farias foi repórter especial do jornal A Crítica, de Manaus, até abril deste ano. Recebeu o Prêmio Imprensa Embratel – Regional Norte (2013), com a reportagem “Cheia do Século”, produzida em equipe, e o Prêmio Onça-Pintada de Jornalismo (2013), com um caderno especial sobre o sauim-de-Coleira.

Nós acreditamos na capacidade de realizar um jornalismo diferente e mais completo pela nossa experiência em cobertura local. Todas nós sempre moramos em Manaus e queremos aproveitar o ganho de percepção da realidade da região para falar da Amazônia”, afirma Elaíze.

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