Ambientalismo

Dilma aciona diplomacia para libertar ambientalista brasileira detida na Rússia

Ana Paula Maciel está detida em Murmansk após ter participado de ação do Greenpeace em plataforma de petróleo no Oceano Ártico. ONG se mobiliza para libertar ativistas

©Dmitri Sharomov/Greenpeace

Ana Paula trabalha com o Greenpeace desde 2006. Ativistas queriam estender faixa em plataforma

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff anunciou hoje (10) que o Ministério de Relações Exteriores dará “toda assistência” à brasileira Ana Paula Maciel, que está presa na cidade russa de Murmansk desde 18 de setembro. A bióloga gaúcha de 31 anos participava de um protesto do Greenpeace na costa noroeste do país quando foi presa pela guarda costeira da Rússia junto com os outros 29 tripulantes do navio Artic Sunrise, utilizado pela ONG ambientalista em suas ações na região Ártica.

“Solicitei ao ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado contato de alto nível com o governo russo para encontrar solução para Ana Paula”, afirmou a presidenta, em sua conta no Twitter. Os 30 ativistas estão sendo indiciados por pirataria – acusação que o Greenpeace repudia: não havia nenhuma arma a bordo e ninguém estava roubando nada em alto mar. Era apenas um protesto pacífico em defesa do meio ambiente. Por isso, a ONG iniciou uma campanha internacional para pedir a libertação imediata de toda a tripulação do Artic Sunrise, bem como do próprio navio, retido pelas autoridades do país.

Além de manter um grupo de advogados na Rússia para auxiliar os ativistas detidos, o Greenpeace está atuando junto aos governos ligados ao caso, como o brasileiro, para tentar também uma solução diplomática para as acusações. Por enquanto, a ONG considera que o Itamaraty está sendo “solícito” com suas petições. E afirma que o embaixador do Brasil na Rússia foi o único diplomata que assinou uma carta garantindo pessoalmente à justiça russa que, se libertada, Ana Paula Maciel ficará no país para responder o processo. Esse documento pode ajudá-la a deixar a cadeia.

O Congresso Nacional também entrou na briga. De acordo com a Agência Brasil, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados afirmou ontem (9) que encaminharia a Moscou um pedido para que Ana Paula aguarde seu julgamento em liberdade. O requerimento para o pedido é de autoria do deputado Henrique Fontana (PT-RS) e já foi aprovado. Agora, será encaminhado à embaixada da Rússia em Brasília.

Também ontem, a mãe de Ana Paula, Rosângela Maciel, protocolou no Palácio do Planalto uma carta à presidenta pedindo intervenção diplomática no caso – o que já está ocorrendo. “Se Ana Paula está injustamente presa a milhares de quilômetros de casa, o motivo é um só: ela dá a cara a tapa por uma causa que é de todos nós”, enuncia Rosângela, que hoje teve seu primeiro contato telefônico com a filha desde a prisão. “A senhora, presidente, sabe muito bem o que é isso. Não só por ser mãe e avó, mas principalmente por ser, como a minha Ana, uma mulher idealista.”

A brasileira trabalha oficialmente com o Greenpeace desde 2006. Antes disso, porém, havia se envolvido em campanhas da ONG no Rio Grande do Sul como voluntária. E foi também como voluntária que embarcou pela primeira vez no Artic Sunrise, quando o navio fez uma passagem pelo Brasil. Então, trabalhou como ajudante de cozinha. A tripulação gostou dela e passou a convidá-la com mais frequência para navegações ao redor do mundo. Atualmente, Ana Paula trabalhava como desk hand (ou marinheira) no Artic Sunrise.

Quando foram detidos, os 30 tripulantes do navio estavam prestes a realizar uma ação pacífica numa plataforma de petróleo da companhia russa Gazprom no Oceano Ártico. Entre as pessoas presas, há dois jornalistas que sequer fazem parte da ONG – estavam ali apenas para fazer a cobertura da intervenção. A ideia do Greenpeace era que alguns ativistas subissem na plataforma e colocassem uma faixa denunciando os impactos ambientais da queima de combustíveis fósseis sobre o ecossistema ártico, um dos mais frágeis do planeta. Já todo mundo sabe que as calotas polares estão derretendo por causa do efeito estufa, e que as consequências de seu desaparecimento – entre elas, a elevação do nível dos mares – terá reflexos em todo o mundo.

Essa era a denúncia que a tripulação do Artic Sunrise queria fazer quando sofreu abordagem da guarda costeira russa, em 18 de setembro. Apesar de estar em águas internacionais, o navio foi apreendido no dia seguinte e vem sendo revistado desde então. De acordo com a ONG, o capitão participou de apenas uma das inúmeras incursões já realizadas pelas autoridades na embarcação. Numa delas, de acordo com a BBC, a justiça do país diz ter encontrado drogas. “Aparentemente morfina e palha de papoula”, informou o comitê investigativo.

O Greenpeace afirma que, sim, transporta morfina em seus navios, mas não para uso recreativo de seus tripulantes: trata-se de um medicamento cuja presença é obrigatória nas embarcações regidas pela lei holandesa – caso do Artic Sunrise e dos outros dois navios da ONG. A substância, porém, permanece trancada num cofre ao qual nenhum tripulante tem acesso – apenas o capitão e o médico possuem a chave. O Greenpeace lembra ainda que a embarcação passou por uma vistoria na Noruega antes de zarpar para a Rússia e cães farejadores não encontraram nenhuma substância ilegal.

O diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo, escreveu uma carta ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, solicitando um encontro em Moscou e propondo se mudar para a Rússia para servir como garantia para a libertação sob fiança dos 30 detidos acusados de pirataria. “Estou disposto a me mudar para a Rússia durante a vigência desse caso. Me ofereço como garantia para a boa conduta dos ativistas do Greenpeace, se eles forem libertados sob fiança.” O documento foi entregue ontem à embaixada da Rússia na Holanda.