Florestas

Alteração no comportamento das plantas com mudanças climáticas intriga pesquisadores

Maior quantidade de carbono na atmosfera desafia ciência a encontrar soluções para evitar desaparecimento de florestas

Wikimedia

Alterações na perda ou absorção de CO2 pelas plantas pode influenciar questões climáticas globais

São Paulo – Sabe quando uma criança não para de comer chocolate e começa a passar mal depois? Com o mundo vegetal não é diferente: pesquisas apontam que as plantas desenvolveram mecanismos para absorver menos carbono, pois estavam “passando mal” por conta da alta exposição ao carbono.

Cientistas observaram que por volta de 8 mil anos atrás, justamente quando antropólogos acreditam que o homem dominou o conhecimento da agricultura chamada de “Slash and Burns”, cuja atividade era cortar e queimar florestas e abrir campos para plantações de subsistência, houve uma inversão acentuada na queda da taxa de carbono, ou seja, o início dos indícios de que a ação do homem afeta, efetivamente, o sistema climático.

Pesquisadores afirmam que a Terra passa por períodos glaciais de aproximadamente 100 mil em 100 mil anos. Trabalhos apontam também que, quanto menor a temperatura terrestre, menor é a porcentagem de carbono presente na atmosfera. Portanto, a queda de gás carbônico está relacionda à queda de temperatura, ensina Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biocências da Universidade de São Paulo (IB/USP).

“Cada período glacial é como um pincel que pinta a biodiversidade”, diz Buckeridge, “e a floresta amazônica praticamente já desapareceu e renasceu diversas vezes”. Quando pensamos em CO2, precisamos ter em mente uma escala global, pois a vida gira em torno desse composto e portanto é necessário entender como as florestas, os mares e a natureza em si vão reagir com toda essa mudança climática.

Paulo Artaxo, físico e professor do Instituto de Física da USP, ressalta a mesma questão, brincando que entender como a natureza vai reagir diante das mudanças climáticas seria uma pergunta de milhão de dólares. É visível a preocupação que a comunidade científica tem em relação às reações do planeta e esse desequilíbrio, e as respostas talvez permitissem prever a permanência ou a extinção dos seres humanos na superfície terrestre.

“O que será que acontece se alterarmos o sistema fotossintético da floresta Amazônica, ou aumentarmos a concentração de gás carbônico e a temperatura na floresta?”, indaga Marcos. Algumas plantas foram expostas a uma alta concentração de gás carbônico para testes: observou-se que a planta cresceu mais, por conta da alta produção de amido (um dos produtos da fotossíntese). No entanto, por causa dessa “obesidade” vegetal, as folhas das plantas começaram a nascer com menos estômatos – que atuam com as portas para a entrada de gás carbônico –, portanto, levantou-se a questão: será que as folhas ao longo do tempo vêm sofrendo essa diminuição devido ao aumento de concentração de CO2na atmosfera?

Através de folhas coletadas desde 1970, foi confirmado que as florestas têm sofrido alterações desde o começo do século 20, quando houve um aumento significativo na emissão de CO2. Se as plantas começarem a diminuir seus estômatos para se protegerem da alta concentração de carbono, todo esse composto vai “sobrar” na atmosfera, o que vai agravar mais ainda o efeito estufa, alerta o Buckeridge.

A Amazônia é o maior reservatório tropical de carbono do planeta: contém de 100 a 200 milhões de gigatoneladas, ou seja, qualquer alteração no sistema climático que possa fazer as plantas perderem ou absorverem mais carbono pode ter uma influência drástica nas questões climáticas globais. Porém, o benefício seria apenas em curto prazo, pois a floresta não poderá absorver carbono indefinidamente, alerta Artaxo. Mas ela pode ganhar tempo para o ser humano desenvolver novas tecnologias.

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