Regularização ambiental

Um ano após aprovação, Código Florestal teima em não sair do papel

Lenta implementação do Cadastro Ambiental Rural é criticada por ambientalistas e representantes do poder público em seminário na Câmara dos Deputados

Antonio Augusto. Câmara

Raul do Valle culpou os estados por suposta má vontade na não aplicação da nova legislação

Rio de Janeiro – Um ano após sua aprovação, o novo Código Florestal brasileiro ainda precisa sair do papel no que diz respeito à criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e à implementação do Programa de Regularização Ambiental (PRA), dois dos pilares do marco legal aprovado após a intensa batalha política travada dentro do governo e no Congresso Nacional. Essa constatação foi feita hoje (21) por ambientalistas, parlamentares e representantes do Executivo e do Judiciário durante um seminário realizado em Brasília pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados em parceria com a Comissão Mista sobre Mudanças Climáticas.

Aprovado em maio do ano passado, o novo Código Florestal só começou a valer de verdade em outubro, quando entraram em vigor as alterações aprovadas pela Medida Provisória 571, mais tarde convertida na Lei 12.727, de 2012. Desde então, a implementação prática de iniciativas como o CAR, cadastramento necessário para que o proprietário rural tenha acesso ao PRA, não estaria, segundo os críticos, fluindo a contento. Isso motivou um grupo de ONGs e entidades representativas dos movimentos sociais a anunciar durante o seminário a criação do Observatório do Código Florestal, colegiado que tem o objetivo de monitorar o avanço das diversas medidas propostas pela nova lei.

Participam do Observatório do Código Florestal o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Instituto Socioambiental (ISA), a Fundação SOS Mata Atlântica, o WWF Brasil e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entre outras organizações. Os integrantes do Observatório anunciaram que pretendem criar indicadores que permitam “a análise da implementação do novo Código Florestal e que contribuam para a transparência do processo”.

Durante o seminário, o ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), reclamou do atraso na regulamentação do CAR, que depende do governo federal, e disse que a falta de implementação do cadastramento é “o principal entrave à real implementação” do novo Código Florestal. “O CAR é o mecanismo mais importante na proteção do próprio produtor rural, uma vez que dá início a uma série de providências que asseguram ao produtor o tempo necessário para recompor seu passivo ambiental. É urgente a implementação do CAR para afastar a situação de insegurança jurídica dos proprietários, que permanece igual à verificada antes da aprovação do novo código florestal”, disse.

Já o coordenador do ISA, Raul do Valle, ressaltou a responsabilidade dos governos estaduais pela demora na viabilização das novas medidas estipuladas no Código Florestal e disse acreditar que está havendo “desleixo por parte de alguns estados na tarefa de cadastrar cerca de cinco milhões de produtores rurais no PRA”.

Implementação gradual

Em resposta às críticas, o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Volney Zanardi Jr., afirmou que o novo Código Florestal “instituiu um novo paradigma de gestão com desafios compartilhados entre os entes federativos” e explicou que o SiCAR (Sistema do CAR) está sendo gradualmente implementado: “Cabe ao Ibama a disponibilização de imagens de satélite neste sistema. Para esta atividade, também conhecida como georeferenciamento, estão sendo investidos cerca de R$ 30 milhões”, disse.

Zanardi disse que o Ibama já fez acordos de cooperação técnica de uso do sistema com 24 estados, faltando apenas Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso, cujos acordos devem ser assinados nos próximos dias: “Uma das dificuldades encontradas na implementação da CAR é a diversidade de procedimentos adotados de forma específica por cada um dos estados”, reconheceu.

De acordo com o coordenador da Frente Ambientalista na Câmara, Sarney Filho (PV-MA), que propôs a realização do seminário, “o CAR é a única medida de grande importância que resultou do novo Código Florestal”. O deputado disse que as falhas do poder público precisam ser corrigidas: “Até agora, só tenho ouvido queixas, principalmente dos proprietários e produtores, de que eles não têm nenhum tipo de auxílio, nem dos Estados, nem da União”, disse.

Também participaram do seminário sobre o Código Florestal representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), além de secretários do Meio Ambiente de diversos estados.

Com Agência Câmara

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