Aprovação de projeto sobre conservação na Jureia (SP) frustra comunidade caiçara

Lideranças afirmam que governo estadual não levou em conta demandas das comunidades tradicionais da região

Cemitério de comunidade da Jureia, reduto de populações tradicionais que podem ser retiradas de suas casas (CC/Paulo Zioli)

São Paulo – O Projeto de Lei (PL) 60/2012 que define a quantidade e limites das unidades de conservação na Jureia, no litoral norte de São Paulo, foi aprovado, na semana passada, pela Assembleia Legislativa, contrariando movimentos sociais e ambientais, que se opunham à medida.

O projeto, de autoria do governo paulista, cria o Mosaico de Unidades de Conservação, estabelecendo novos limites da Estação Ecológica Jureia-Itatins e mantendo a permanência de algumas das populações tradicionais do local (caiçaras, indígenas, quilombolas) nessas regiões. No entanto, outros moradores – de comunidades como Morro do Itu, Praia Brava, Guarauzinho, Barro Branco. Tatequera,  Itinguçu e Itinguinha  deverão ser removidas de suas casas.

Segundo a vice-presidente da União dos Moradores da Jureia, Adriana Souza Lima, desde a instalação da Estação Ecológica Jureia-Itatins, instituída em 1986 pelo governo do Estado, as comunidades caiçaras tradicionais sofrem perseguições por parte da Fundação Florestal, ligada à Secretaria do Meio Ambiente. “O governo afirma que na região não há comunidades, só famílias. E para eles essas famílias não são importantes. A maioria das famílias tradicionais vão ficar dentro da área de conservação ecológica sob pressão, porque dentro destas áreas não pode ter gente”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual.

O Mosaico é composto pela Estação Ecológica da Jureia-Itatins, pelos Parques do Itinguçu e Prelado, pelo Refúgio de Vida Silvestre das ilhas do Abrigo (ou Guaraú) e Guararitama e pelas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Barra do Una e Despraiado. 

RDS é a categoria da Unidade de Conservação que integra as populações tradicionais que desenvolvem sistemas sustentáveis de exploração de recursos aos territórios. Já a Estação Ecológica é um tipo de unidade de conservação que não pode ser habitado.

Uma ação civil pública proposta no ano passado pelo Ministério Público estadual determinou a retirada dos moradores da região, mas a Defensoria Pública de São Paulo conseguiu liminar no Tribunal de Justiça impedindo a expulsão.

Os defensores das comunidades afirmam que a Jureia é um dos últimos redutos da população tradicional caiçara no estado, e que as famílias já viviam na região antes de 1986, quando foi criada a Estação Ecológica, que desconsiderou a existência das comunidades tradicionais – algumas delas vivem há cerca de 400 anos na região.