Pesquisa indica que preço, e não meio ambiente, determina escolha do consumidor

Dados foram levantados em novembro pelo Ibope a pedido da organização internacional WWF e divulgados durante a Expocatadores, que reúne trabalhadores e empresas dedicados à reciclagem

Cidrin, à esquerda, afirma que é preciso “socializar” a responsabilidade pelos resíduos (Foto: Eduardo Aigner/WWF-Brasil)

São Paulo – Muito mais do que a sustentabilidade social e ambiental, é o preço que define a preferência do consumidor por esse ou aquele produto comercializado no Brasil. A conclusão é de um estudo encomendado pela organização ecologista internacional WWF ao Instituto Ibope em novembro de 2011, mas só divulgado agora. A pesquisa ouviu duas mil pessoas e detectou que 70% dos consumidores brasileiros privilegiam o bolso na hora de escolher entre os itens disponíveis nas prateleiras.

Depois do custo, as características mais levadas em consideração são a durabilidade (opção de 52% dos entrevistados) e a marca (45%). Aspectos sociais ligados ao uso de trabalho infantil ou análogo à escravidão ficam atrás na preferência do consumidor, assim como questões ambientais, tais quais o tempo que a embalagem demora para se decompor na natureza. Os resultados da pesquisa foram apresentados durante a Expocatadores, evento que reúne em São Paulo, entre hoje (28) e sexta-feira, centenas de catadores de materiais recicláveis de todo o país, além de empresas e organizações da sociedade civil dedicadas à sustentabilidade. Grande tema do encontro, o fato de os produtos serem confeccionados a partir de materiais recicláveis pesa na escolha de apenas 27% dos consumidores brasileiros.

O Ibope procurou medir ainda quais hábitos de consumo a população prentede mudar nos próximos três anos, e observou que 46% dos entrevistados gostariam de reduzir principalmente o uso de sacolas plásticas e copos descartáveis. Poucos, porém, pensam abrir mão dos produtos de limpeza – que provocam impactos negativos sobretudo na qualidade da água. Outro resultado do levantamento que preocupa os ambientalistas é a percepção popular sobre o destino do lixo. “Uma em cada três pessoas não faz ideia de para onde vai o lixo produzido em casa”, diz o Ibope. Em compensação, 65% dos entrevistados têm consciência de que pilhas e baterias são prejudiciais à natureza.

Mas o dado que mais demonstra a importância dos catadores de materiais recicláveis no Brasil é o alcance do serviço de coleta seletiva no país: apenas 35% da população diz ser atendida pelo serviço, revela o estudo, e só na metade destes casos a coleta é feita pela prefeitura. “A gente percebe que essa ainda é uma prática de poucas prefeituras”, avalia Fábio Cidrin, coordenador do programa Educação para Sociedades Sustentáveis da WWF. “Embora o brasileiro esteja disposto a participar, esse serviço não está sendo oferecido pelo poder público.”

O ativista revela com satisfação que, perante o vazio do poder público, a sociedade brasileira está reconhecendo o trabalho dos catadores de materiais recicláveis. “Metade dos entrevistados disseram que a coleta é feita por catadores, e não pela prefeitura.” Cidrin lamenta, porém, que a população ainda fique devendo em alguns aspectos da reciclagem, e cita um dado negativo do estudo: aproximadamente 10% das residências que contam com o serviço de coleta seletiva não separam nenhum material. “Tem de se falar mais da Política Nacional de Resíduos Sólidos, socializar a responsabilidade e ver o que todos estamos fazendo para reduzir a quantidade de resíduos”, pontua. “A gente quer trabalhar em cima dessa responsabilidade compartilhada.”

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