Relatório da ANP mostra negligência da Chevron em vazamento de 3,7 mil barris

Acidente ocorrido em novembro de 2011 na costa norte fluminense poderia ter sido evitado pela petrolífera caso seguisse manual de procedimentos da ANP, diz relatório

Rio de Janeiro – A Agência Nacional de Petróleo (ANP) disse hoje (19) que a petroleira Chevron descumpriu a legislação brasileira na exploração de petróleo no Brasil e não observou o manual de procedimentos exigido pela agência para controlar riscos na operação. De acordo com o relatório final sobre o vazamento de 3,7 mil barris de petróleo ocorrido em novembro de 2011, atingindo 120 quilômetros da costa norte fluminense, a empresa foi negligente acerca da perfuração do poço 9 Frade 50DP-RJ, no campo do Frade.

“Se tudo tivesse sido feito de acordo com esse mesmo manual da empresa, o acidente não teria ocorrido”, disse a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.

O relatório sobre o acidente, de 68 páginas, divulgado nesta tarde, na sede da agência, no Rio de Janeiro, será publicado amanhã pela ANP. O documento foi apresentado após oito meses de análises e de receber contestações da empresa.

Ainda de acordo com a ANP, a petrolífera se atrasou nos procedimentos de segurança para conter os vazamentos, uma vez que “demorou dois dias para perceber a situação de underground blowout, o que aumentou ainda mais o derramamento”.

Segundo a ANP, os erros resultaram em 25 multas, das quais a empresa ainda pode recorrer. O valor da multa está sendo calculado e será divulgado em 30 dias. A expectativa da agência é que fique abaixo do teto de R$ 50 milhões.

“A Chevron não foi capaz de interpretar a geologia local, apesar de já ter 62 poços perfurados no local, e foi isso que culminou com o ‘kick‘ (vazamento) e com a chegada do óleo ao mar (underground blowout)”, diz o relatório.

“É nossa conclusão que o erro da interpretação da fluído dinâmica do reservatório levou a uma estimativa incorreta do modelo de pressão do reservatório. A própria empresa elevou artificialmente a pressão, criando assim as condições para que o acidente se concretizasse. É nossa conclusão ainda que a empresa não utilizou os resultados de teste de resistência da rocha em três poços perfurados anteriormente na região. Se tivesse usado os dados disponíveis, o projeto teria se mostrado inviável”, afirmou a ANP no documento.

A diretora-geral da ANP disse que a agência analisando pedido formal da Chevron para retomar a produção de petróleo no país, e que o resultado sairá nos próximos dias. Segundo Magda Chambriard, a produção no local do acidente foi interrompida voluntariamente pela petrolífera. 

“O que nós suspendemos foi a injeção e a perfuração. Em função disso, a Chevron solicitou a nós por medida cautelar a interrupção da produção e nós acatamos. Eles já nos solicitaram a retomada de produção, mas não em todos os horizontes”, disse a executiva, segundo o portal Terra.

“Para retomar as atividades de perfuração na costa brasileira, a Chevron terá de mostrar para nós que está em concordância com o nosso relatório, e a partir da compreensão do incidente, demonstrar que existam medidas mitigadoras para tornar este risco mínimo e aceitável. É desta forma que funciona”, disse a diretora.