Para Ignacy Sachs, Rio+20, mesmo tardia, deve reduzir diferenças entre países

Para economista, opção por decrescimento econômico das nações só é viável após redução de desigualdades

O economista Ignacy Sachs: oportunidade para mudar parâmetros de desenvolvimento e diminuir abismo entre países (Foto: Ubirajara Machado/MDA/arquivo)

São Paulo – O economista Ignacy Sachs espera que a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, tenha como desfecho a redução das desigualdades entres os países e um “planejamento democrático”. “Precisamos administrar o futuro da humanidade. Pode parecer ambição desmedida, mas eu acho que é essencial. É isso que leva a dizer que apesar de todos os fracassos, eu continuo a acreditar na ideia de um planejamento democrático”, considerou, emocionado, o economista, um dos nomes mais importantes quando o assunto é desenvolvimento sustentável.

Sachs citou exemplos objetivos e prazos para que as agruras e o esgotamento do planeta não sejam mais um problema da humanidade. Defendeu a redução da desigualdade entre os países, e também dentro de cada um deles, além de discutir conceitos como a “pegada ecológica” e paradigmas energéticos mais sustentáveis.

“Precisamos preparar uma saída ordenada e gradual das energias fósseis, sem criar uma dependência perigosa da energia nuclear. O aproveitamento e o conjunto das energias renováveis são os pilares dessa estratégia”, afirmou, em sua intervenção na Conferência Internacional do Instituto Ethos, hoje (13), em São Paulo.

A longo prazo

O ecossocioeconomista afirmou que deve ser dado aos países membros da ONU tempo suficiente para esboçarem um plano “socialmente includente e ambientalmente sustentável”. Ele sugeriu que para o período de 2016 a 2030 as Nações Unidas fiquem incumbidas de criar um fundo internacional de desenvolvimento sustentável, além de comprometimento de financiar 1% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países ricos.

Sachs propôs ainda que a ONU aplique um imposto sobre as emissões de carbono e uma espécie de pedágio para uso dos mares e do ar, a serem cobrados de aeronaves e navios, a exceção de países menos desenvolvidos.

Ignacy Sachs calculou que esse conjunto de propostas represente em torno de 2% do PIB mundial, ou um décimo de todos os investimentos suficientes para ajudar os países menos desenvolvidos a mudar “drasticamente” suas estruturas.

Após 2050

O palestrante sugeriu ainda que em 2050, finalmente, a ONU institua um planejamento de ordem planetária capaz de reduzir as taxas de crescimento material à medida que as diferenças em termos de consumo material tenham diminuído entre os países. Entretanto, Sachs adverte: “O decrescimento, porém, é inconcebível antes de termos drasticamente reduzidas as desigualdades sociais que hoje prevalecem no mundo. Esse é o desafio maior do momento”.