Para dom Paulo Evaristo Arns, mais do que uma crise ambiental, planeta vive crise civilizatória

Em carta lida durante seminário que debateu a Rio+20, arcebispo emérito de São Paulo diz que a ciência e a tecnologia devem estar a serviço do homem e da natureza, e não o contrário

São Paulo – “Para conferência que discutirá a saúde do planeta, da qual o Brasil será o anfitrião, é preciso que se discuta, primeiramente, o que se quer dessa reunião, pois o homem enfrenta uma encruzilhada, com ameaças nunca antes vistas.” A frase é de dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, referindo-se à Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a Rio+20. A posição de dom Paulo foi lida em carta durante o seminário “Desconstruindo a crise civilizacional. Um olhar sobre a Rio+20”, realizado hoje (16) na sede do Ministério Público Federal em São Paulo.

“Mais do que uma crise ambiental enfrentamos uma crise civilizatória. Uma crise de valores sem precedentes na nossa civilização. Se exaure a natureza, assim, se exaure o homem, que são partes indissociáveis”, definiu dom Paulo.

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No evento em que se discutiu os rumos e os desafios da Rio+20, dom Paulo exaltou a solução encontrada para as discussões, acerca do desenvolvimento, baseada no somatório da contribuição de todos os segmentos da sociedade, desde o científico, passando pelo artístico e pelo espiritual. “Precisamos de uma ciência e uma tecnologia a favor do homem e da natureza. Não ao contrário. Porque a ciência não é neutra”, pontuou.

Dom Paulo criticou ainda o modelo de sociedade, dividida em duas pontas, uma abastada “imersa no consumismo”, e na outra extremidade uma população miserável, “superexplorada, a favor do processo de acumulação”.

Ele relembrou sua ação à frente das pastorais da Igreja Católica, principalmente nas áreas mais periféricas da cidade. “Exerci parte de minha atuação pastoral na periferia da metrópole e sei da carência da população, principalmente, neste momento perverso, no qual a terrra e o ser humano são mercadorias. Momento que tem os dias contados”, sentenciou.

Violência

O arcebispo lembrou a violência com que a população da Amazônia brasileira tem vivido, numa constante situação de insegurança e ameaça. “Há irmãos na Amazônia que são assassinados por aqueles que lutam apenas para aumentar seus latifúndios”, lamentou.

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