Governo instala gabinete de crise diante do aumento ‘inusitado’ do desmatamento

São Paulo – O Mato Grosso foi o estado da Amazônia Legal onde ocorreu o maior desmatamento entre março e abril deste ano. Foram 480,93 quilômetros quadrados desmatados, segundo o […]

São Paulo – O Mato Grosso foi o estado da Amazônia Legal onde ocorreu o maior desmatamento entre março e abril deste ano. Foram 480,93 quilômetros quadrados desmatados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mede o desmatamento com base em imagens de satélites e dados do sistema Deter. No total, 593 quilômetros quadrados, aumento de 472,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Os resultados contrariam a tendência de queda verificada nos dois primeiros meses de 2011.

O crescimento da devastação é um evento “absolutamente inusitado”, nas palavras da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, nesta quarta-feira (18). Ela informou a decisão de instalar um gabinete de crise para apurar esse aumento. “Nós não sabemos ainda o que está acontecendo no campo. O comportamento do estado de Mato Grosso é um completamente atípico e contraditório”, disse.

O gabinete de crise, coordenado pela ministra, inclui representantes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e secretários de Meio Ambiente dos estados da Amazônia. “A ordem é reduzir o desmatamento até julho… É um compromisso formal do governo. Nós temos que cumprir o Plano Nacional de Mudanças Climáticas”, afirmou a ministra.

O levantamento mensal ou bimestral envolve oito estados. Em cinco – Acre, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima – constatou-se desmatamento e em três – Amapá, Amazônia e Tocantins – não há registros de perda de vegetação, segundo as imagens de satélite. Por ser um período de chuvas, as fotos são prejudicadas pela concentração de nuvens, que impede o monitoramento. Dados do Inpe atestam um crescimento de 27% das áreas desmatadas de agosto do ano passado a abril

O fato de os alertas emitidos pelo sistema Deter de monitoramento foge da regra para esse período do ano. Segundo Izabella, isso indica que proprietários rurais estão adotando técnicas que haviam sido abandonadas, como o chamado “correntão”, em que uma corrente grossa é amarrada a dois tratores que adentram a mata e abrem grandes avenidas.

“O estado do Mato Grosso, em 2004, tinha cerca de 12 mil quilômetros quadrados de taxa de desmatamento. Chegou ao ano passado com 800 quilômetros quadrados. Aconteceu, em um mês (abril), que nós temos 400 quilômetros quadrados de desmatamento no estado. É metade da taxa que eles tinham no ano passado”, avaliou Izabella.

A ministra desconversou sobre a possibilidade de o aumento estar relacionado à perspectiva de aprovação do novo Código Florestal. A crítica foi feita por organizações socioambientalistas. Para a ministra, faltam elementos suficientes para avaliar o caso. A mudança na legislação ambiental discutida na Câmara dos Deputados pode, segundo ambientalistas, incentivar a prática de desmate ilegal, principalmente se confirmada a anistia à derrubada de mata anterior a 2008.

O desmatamento constatado aconteceu em áreas com licenciamento e planejamento de supressão de vegetação, o que pode indicar dificuldades de fiscalização. Izabella destacou, porém, que há mais de 500 homens da área do Mato Grosso para apurar as causas.

Além disso, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que o sua pasta, a qual o Inpe está subordinado, está investindo em satélites de última geração, que poderão gerar dados mais precisos sobre as áreas de degradação. “Se antes a gente via o trator desmatando, agora nós vamos ver o machado”, disse o ministro.

Com informações da Agência Brasil e Reuters